quarta-feira, 25 de maio de 2011

São Pedro de Moel

Alguns amigos mostraram conhecer e ter saudades de S.Pedro de Moel. Aos que conhecem e aos que não conhecem deixo o convite para uma visita. Tanto mais mais que parte da beleza deste local, as famosas "arribas" correm o risco de caír por "falta" de verba para a intervenção que apesar de estar programada, foi adiada. Quem sabe, até ser tarde de mais.

O Poeta Afonso Lopes Vieira tinha uma casa de férias (bem visível no video ao minuto 2:15). No seu testamento deixou-a ao Município da Marinha Grande para que aí fosse feita uma colónia de férias para os filhos dos operários vidreiros. Foi aí que passei as primeiras férias à beira-mar.
Hoje para além da pequena colónia de férias, funciona um pequeno museu. Precisamente com o seu nome.


Pinhal do Rei
Afonso Lopes Vieira

Catedral verde e sussurrante, aonde
a luz se ameiga e se esconde
e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar:
ditoso o "Lavrador" que a seu contento
por suas mãos semeou este jardim;
ditoso o Poeta que lançou ao vento
esta canção sem fim...

Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
rei D. Dinis, bom poeta e mau marido,
lá vem as velidas bailar e cantar.

Encantado jardim da minha infância,
aonde a minh'alma aprendeu;
a música do Longe e o ritmo da Distância
que a tua voz marítima lhe deu;
místico órgão cujo além se esfuma
no além do Oceano, e onde a maresia
ameiga e dissolve em bruma,
e em penumbra de nave, a luz do dia.
Por estes fundos claustros gemem
os ais do Velho do Restelo...
Mas tu debruças-te no mar e, ao vê-lo,
teus velhos troncos de saudades fremem...

Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
são as caravelas, teu corpo cortado,
é lo verde pino no mar a boiar.

Pinhal de heróicas árvores tão belas,
foi do teu corpo e da tua alma também
que nasceram as nossas caravelas
ansiosas de todo o Além;
foste tu que lhe deste a tua carne em flor
e sobre os mares andaste navegando,
rodeando a terra e olhando os novos astros,
ó gótico Pinhal navegador,
em naus, erguida, levando
tua alma em flor na ponta alta dos mastros!...

Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que grande saudade, que longo gemido
ondeia nos ramos, suspira no ar!

Na sussurrante e verde catedral
oiço rezar a alma de Portugal:
ela aí vem, dorida, e nos seus olhos
sonâmbulos de surda ansiedade,
no roxo da tardinha,
abre a flor da Saudade;
ela aí vem, sozinha,
dorida do naufrágio e dos escolhos,

viúva de seus bens
e pálida de amor,
arribada de todos os aléns
de este mundo de dor;
ela aí vem, sozinha,
e reza a ladainha
na sussurrante catedral aonde
toda se espalha e esconde,
e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar.


(In Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa)


6 comentários:

Fê blue bird disse...

Obrigada meu amigo, por estes minutos mágicos.
As imagens a música e o poema já valeram para animar o meu dia.
Temos que nos alimentar da beleza, só ela nos pode dar forças para combater tanta incerteza.

beijinhos

Anónimo disse...

Parabéns pelo trabalho.Gostei e vou voltar mais vezes.
Só fiquei triste e isso o amigo não tem culpa,é que na nossa camara da Marinha tudo é adiado,agora até a obra de consolidação das arribas.S.Pedro merece melhor...

Rosa dos Ventos disse...

Conheço muito bem S.Pedro e esta casa-Museu!
Tenho aliás várias fotos tiradas no interior e do interior para o exterior...
Obrigada pela actualização!

Abraço

Gisa disse...

A grandeza das imagens e da poesia se conjugam em um enorme espetáculo onde a beleza dá a tônica
Um grande bj querido amigo

Anónimo disse...

Hoje já consigo ver os videos, caro Rodrigo.
Gosto muito de S. Pedro de Moel, vou lá com frequência e posso mesmo dizer como o Malato:
Já fui muito feliz em S. Pedro de Moel :-)))

Unknown disse...

Bom dia
Excelente post. Video e poema de Afonso Lopes Vieira.


"...e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar."

Aqui nós somos também filhos deste mar. Somos irmãos deste pinhal onde se alonga e prolonga ...