quarta-feira, 11 de maio de 2011

Onde estão as Ideologias?


Assisti ao debate entre Passos Coelho e Jerónimo de Sousa.

 Não sou capaz de prognosticar qual o vencedor do chamado debate. Sim porque um debate pressupõe um maior aprofundamento sobre aquilo que está em jogo. Um debate eleitoral pressupõe também que nele se inclua o combate ideológico entre as concepções de direita e esquerda. Tirando a proposta já conhecida da venda dos títulos comprados por Portugal e que circulam pelos mercados e a negociação da dívida, nada mais.

A troca de galhardetes foi uma constante. Mais parecia uma conversa entre dois “parceiros” duma eventual futura coligação e que para disfarçar espetaram levemente aqui e ali uma ou outra alfinetada.

Propostas para o futuro, nada. O PCP pela voz de Jerónimo de Sousa só mostrou ter um objectivo. Contribuir para a derrota do PS nas eleições que se aproximam.

Sobre o futuro que é necessário construir, nada também. Um Partido que quer construir um futuro melhor,tem que apresentar alternativas sobre o tipo de sociedade que quer e apontar os meios para a atingir . As alianças que tem que fazer.

Sou dos que pensa que os tempos complicados em que vivemos vão sofrer grandes agravamentos. Sou dos que pensa que que o futuro passa pela esquerda. Sou dos que pensa que nenhum partido de esquerda tem condições sozinho para assumir a direcção governativa do nosso País. Sou dos que pensa que do PCP ao PS, passando pelo BE a generalidade dos militantes, simpatizantes e eleitores desses Partidos fazem a maioria do eleitorado do País. Sou dos que pensa que em 5 de Junho nada fica resolvido e que urge trabalhar já em alternativas, mudando naturalmente alguns dos protagonistas actuais. O comportamento amistoso (politicamente falando) visto ontem no “debate” deixou-me assim um bocado para o “envergonhado”.

Onde está a ideologia Marxista do PCP?

20 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Podia desenvolver o tema. Daria um excelente post. Contudo, não sei se vale a pena fazê-lo aqui por tão diferente apreciação a um debate de ideias, onde o único ponto comum foi, de facto (mas por razões diferentes), a política seguida pelo PS.

Quanto a situar as ideologias se não o conseguiu fazer tenho pena, mas penso que a limitação é sua.

Para Jerónimo, a grande questão situa-se nos factores de produção que do ponto de vista marxista é uma abordagem primária. Os factores de produção geram riqueza e o modo da sua apropriação e as desigualdades geradas pelo sector financeiro é uma abordagem de Jerónimo para denunciar o memorando e quem o subscreve. Se não sabe esta também é uma abordagem marxista. A utilização do capitalismo dos recursos básicos que geram os factores de produção mercantilizado "energia, água, transportes, comunicações, correios" (entre outros) são um instrumento não só de lucro (mais) imoral como uma forma de retirar ao Estado a capacidade de desenvolver politicas de desenvolvimento mais justas e equilibradas.

Meu caro Rodrigo, a exibição por parte de Passos Coelho do gráfico sobre quem mais liberalizou a economia pela via das privatizações devia ter-lhe causado alguma preocupação. Pelos vistos não. Fico sem perceber o que se passa na sua cabeça (nem na sua alma)mas, neste caso a limitação é minha, pois nunca consegui perceber a razão porque os ratos votam nos gatos...

folha seca disse...

Caro Rogério
Obrigado por responder ao meu desafio.
Vou só ligeiramente (partindo do principio que esta discussão não vai ficar por aqui) Referir-me à ultima parte.
Sobre o Gráfico o próprio Jerónimo respondeu claramente. referindo que tinha a ver com o tempo em que os partidos respectivos estiveram no poder.
Quanto ao que se passa na minha cabeça? É precisamente influência da minha alma (ou o que resta dela) que me cria alguma confusão.
Não tenho duvidas (e o meu caro tambem não) que considero que o PS tem uma direcção e sobretudo um secretário geral de direita. Agora tambem não tenho duvidas que grande parte dos militantes e apoiantes são de esquerda como os do Bloco de esquerda.
O conceito de vanguarda também é um conceito Marxista.
Quanto ao meu sentido de voto acho que o meu caro se está a "pôr a adivinhar" Ainda recentemente escrevi sobre isso. Mas eu sou daqueles que tenho duvidas e às vezes engano-me.
Abraço

Vento Norte disse...

Caro Folha Seca,
Ideologias à parte, e ainda quanto ao debate, no pouco que pude seguir, há dois aspectos que me chamaram particularmente a atenção.
O primeiro é a pressa com que o Passos acusou o Sócrates de terrorismo político por ter afirmado que o PSD queria acabar com a taxa intermédia do IVA de 13% e arruinar o sector da restauração. Afinal, vem hoje o Dr. Catroga, pai do programa e cavalo de Tróia do Cavaco, dizer isso mesmo, que essa taxa deveria acabar.
A segunda, é a ligeireza com que o Dr. Passos acha que o IVA na electricidade pode passar de 6% para 23% sem considerar a situação das famílias que já não suportam mais extorsões. É que essa medida só penaliza as famílias, porque as empresas, regra geral, deduzem o IVA que pagam. Mais uma vez, vem o Dr. Catroga achar que está bem e que isso pode render 400M.
Também gostava de não votar no gato, mas francamente não sei como.

Teófilo Silva disse...

Farinha do mesmo saco meu caro. Ou como costumo dizer, pulgas do mesmo cão. Para não se atacarem um ao outro, passaram o tempo a disparar contra o governo!
Um abraço

folha seca disse...

Caro Vento Norte
Um comentário seu (desde outras andanças) é sempre bem vindo. Habituei-me a vê-los sempre com bastante conteúdo.
Parece-me e tambem independente das ideologias, que o clima criado impede que de uma forma séria se esteja a construir uma solução com a duração mínima exigida pelos agiotas que nos vão "emprestar" dinheiro. A haver casamento será de muito pouca dura, basta olhar para o "namoro".
De facto tenho defendido que há outras soluções que podem e devem começar desde já a ser construídas. Mas não me parece que haja vontade. Paciência. Mas sonhar e dizer o que pensamos (mes mo que pensemos mal) ainda não tem taxa de iva.
Sobre o IVA subscrevo inteiramente o que diz.
Cumprimentos

folha seca disse...

Caro Teófilo
O problema é que a farinha d`hoje, está demasiado misturada não se sabe bem com quê.
Os transgénicos devem andar a dar cabo dos neurónios a alguns Políticos. De facto ouve demasiada "concordância" e o que resta da minha alma, ressentiu-se.
Abraço

Isa GT disse...

A mim, deixa-me desconsolada... deve ser por isso que ando a drogar-me com açúcar ;)

Bjos

Rogério G.V. Pereira disse...

Folha seca,

Por favor fale-me da substancia da coisa e não só da coisa da substancia.

A substancia da coisa é que o memorando é mesmo uma coisa que, além de péssima, não vem resolver coisa nenhuma. É contra isso que o PCP está. Se estando contra isso está contra o PS é consequência e não a causa. Não é por estar contra o PS que o PCP apresenta alternativa, é contra as privatizações e defende outras politicas. Se há gente honesta e disponivel para outras politicas, não tenho duvidas, mas então que se assumam...

folha seca disse...

Isa
A compensação para o desconsolo atrvés do consumo de doces tem contra indicação complicadas. Uma dela é o aparecimento da diabetes. Se não sabe eu digo-lhe que o tratamento e outras isenções vão desaparecer. É assim quem quer saude paga-a.
Abraço

folha seca disse...

Caro Rogério
Trocadinhos à parte o que fiz (ou quiz fazer) no meu post foi demonstrar a minha desilusão pela falta da defesa dos principíos ideológicos de um Comunista. Este combate tem que estar sempre presente (a não ser que dele se tenha abdicado).
Tem razão. Há gente honesta que tem opiniões e não as manifesta publicamente. Percebe-se (embora não se aceite).
Mas meu caro é evidente que esta é uma discussão que já vem do seculo XVIII. Naturalmente que me falta "substância" para discutir algumas coisas.

Carlos Albuquerque disse...

Não aguentei o “debate” (também grafo o vocábulo entre comas…) até ao fim.
Partira para ele com alguma expectativa, mas a desilusão foi total.
Passos Coelho portou-se como um puto mal-educado. Logo no arranque desprezou, por completo, quem tinha à sua frente e zurziu forte e feio em Sócrates e no PS. Revelou estar ali, não para discutir o que quer que fosse com Jerónimo de Sousa, mas para aproveitar o tempo de antena do “debate” na sua campanha contra o PS. A história de que com Sócrates no PS não, sejamos claros, é cada vez mais um álibi da direita. O que esta quer é destruir o PS, pura e simplesmente! Evitar que este ganhe as eleições.
Raciocinemos: Se o líder do PS fosse, por exemplo, Ferro Rodrigues (um político de esquerda) o PSD formaria governo com ele? Quem acredita nisto? Deixem de nos contar histórias e vão dar banho ao cão, por favor!
Esperava que de Jerónimo de Sousa viesse o golpe de asa, o toque de génio político, a voz de esperança para a Esquerda, mobilizando-a para a batalha visando derrotar a direita. Isto porque eu sei que ele sabe que muitos eleitores de Esquerda se não revêem no PCP nem no BE, e que a Esquerda vai para além destes dois partidos. Mas, não! O que lhe ouvi foi um argumentário, velho e repetido, todo ele virado para um único objectivo: Evitar a vitória eleitoral do PS.
PPC não conquistou um único voto comunista, e JS não arregimentou qualquer voto social-democrata, nem tal era esperado, dum e doutro lado. Temo, porém, que a prestação de JS possa ter levado eleitores do centro-esquerda para o lado do PSD.

folha seca disse...

Caro Carlos Albuquerque
Quando escrevo um post, limito-me a deixar a minha opinião.
Nem sempre acerto no que digo e muitas vezes o que digo não está certo. É por isso que considero que este mundo da blogosfera pode ser um veículo de profunda discussão e descomplexadamente podermos emitir a nossa opinião.
Nem sempre os nossos amigos concordam connosco. Esse é o risco que eu corro na "desportiva"
Quanto ao seu comentário, estou de acordo, nomeadamente na conclusão que tirou.
Abraço

Fê blue bird disse...

Depois de ver o debate, ler o seu post e os comentários de quem sabe infinitamente mais do que eu sobre política, a minha alma ainda não encontrou nenhuma inclinação e começo a ficar seriamente inquieta.
Sempre fui de esquerda e sinto que ela, agora mais do que nunca, se devia unir, como isso parece que não vai acontecer, quem continua a ganhar são sempre os mesmos.

beijinhos

Relaxoterapeuta disse...

Juro que há coincidências do camandro. Ou então, são apenas pontos de vista que se tocam. Mas no essencial, quanto ao futuro e quanto à questão da abordagem ideológica, estamos em sintonia. Tão em sintonia que quando hoje publiquei um post e depois, ao fazer o meu habitual passeio de fim de tarde pela blogosfera aqui parei, ao ler certas passagens do seu post pensei cá para comigo: "c'uma porra Relaxoterapeuta, andas a plagiar o Folha Seca e isso não é bonito..."
Saúde e ânimo.

Anónimo disse...

Não vi o debate e por isso não posso opinar. Preocupa-me, porém, ver a esquerda mais assanhada contra Sócrates do que contra PPC.
Não gosto de Sócrates e nunca votei nele, mas sou de esquerda e não me revejo na sua actuação durante os dois últimos meses. Utilizam a mesma demagogia do PSD, esquecendo que a crise internacional foi em grande parte responsável pela situação em que nos encontramos.
Não ouvi ninguém na esquerda condenar o endividamento inconsciente das famílias portuguesas, também elas em boa parte responsáveis pela dívida astronómica. O discurso do coitadinho rende votos mas é irresponsável. Transmite a ideia de que tudo devia continuar na mesm, com as famílias a contrairem créditos atrás de créditos.
Tenho muita pena, mas não vou por aí. Para mim , apesar de Sócrates, ainda há grandes diferenças entre o PS e o PSD. Meter tudo no mesmo saco é fazer o jogo da direita.
Peço desculpa pelo espaço que lhe tomei, meu caro amigo.
Abraço

Rogério G.V. Pereira disse...

Regressei para ler os comentários seguintes. Li tudo! Tudinho! Nada de substância (com excepção do Vento Norte). Todas as ideias giram em torno dos taticismos e das lamentações sobre a, real impossibilidade, de uma udidade de esquerda. Mas o comentário do Carlos Albuquerque é paradigmático da aceitação da inevitabilidade em enfrentar a situação que não seja pela boa gestão das medidas impostas pela troica de que o PS parece ser o mais habilitado. Por outro lado não percebo como pode considerar ter ouvido argumentário velho e repetido em torno de uma situação sem precedentes... e , por isso, propostas que nunca antes foram colocadas. Mas sobre a reetruturação da divida, sobre a constitucionalidade e democraticidade deste processo muito ainda se irá falar. Estou certo.

Cacarol disse...

Tudo se transforma...

Pedro Coimbra disse...

Já se esqueceram, Rodrigo.

folha seca disse...

Caras e caros amigos
Peço desculpa por não responder invividualmente, agradecendo os vossos comentários.

Antes de mais referir que "que como é "publico e notório" não gosto de José Sócrates" gostaria de ver à frente do PS uma das muitas pessoas com melhores condições para exercer o cargo.
No entanto creio que confundir a base de apoio do PS com a da direita é um erro que o PCP tem pago caro.
Neste post apenas pretendi dar um testemunho da indignação ao ver o secretário geral do PCP, voltar a cometer este erro, para além de outros. Mas fico por aqui porque a procissão ainda vai no adro. O futuro vai ou não, dar razão a quem a tem. Até porque esse mesmo futuro constrói-se (ideológicamente falando).
Abraços

Carlos Albuquerque disse...

De novo por aqui, com uma palavra ao nosso amigo Rogério Pereira.
Onde encontrou, Rogério, nas minhas palavras, a “aceitação da inevitabilidade em enfrentar a situação que não seja pela boa gestão das medidas impostas pela troica de que o PS parece ser o mais habilitado”? Se o Rogério aceita tal inevitabilidade, eu não! Garanto-lhe. Por isso mesmo esperava a palavra de alento de Jerónimo de Sousa, adequada ao momento que vivemos. Uma palavra de união da Esquerda. As minhas palavras são claras, isentas de trocadilhos, pois o trocadilho é habilidade que se me escapa.
Argumentário velho e repetido. Reafirmo. Agora encostado à cegada do acordo com a troica. Em tempos, desculpe não lhe dizer exactamente quando nem onde, ouvi Álvaro Cunha dizer para um camarada seu: “É importante que o partido esteja no Governo”. O combate por dentro, não a arremetida inconsequente por fora.
O argumentário contra o PS tem anos de vida. Creio (e isto não passa da minha muito modesta opinião), que tal estratégia do PCP levou ao surgimento do BE. Ao contrário do que, eventualmente, o PCP tenha imaginado a Esquerda do PS não se lhe chegou, antes preferiu ir atrás de Louçã. Tal faixa, julgo eu, já percebeu o logro em que caiu e parte dela apresta-se para regressar ao PS, enquanto outra, talvez de menos consistente formatação ideológica (transversal a todos os partidos, mais nuns do que noutros, e não excluso o PCP) está hesitante. Se o argumentário do PCP continuar acabará por atirar-se para o colo do PSD, continuando o partido a não ver aumentar o seu eleitorado, que continua fiel, mas não passando da dimensão que tem.
Isto não tem nada a ver com a reestruturação da dívida. Quanto a isto estamos de acordo: Ainda muito dela se vai falar. E, oxalá assim seja.
Abraço