quinta-feira, 30 de agosto de 2012

"Terra Queimada"


A comum desculpa de falta de tempo para escrever um post, também me atingiu. Ou seja arranja-se sempre tempo se a motivação existir.
Na verdade, nos tempos que correm apetece-me dizer tanta e variada coisa que acabo por embatucar e não sai nada. Tenho-me refugiado com a publicação de músicas e canções porque a “cantar também se diz”.
Um companheiro de outras andanças blogueiras e que criou o seu próprio blog, que viria a fechar um tempos depois, confidenciou-me por mail que estava farto da “chafurdice” que grassa neste País. Não me parece que não esteja atento. Estou certo que não está quieto e certamente participa em algo que possa contribuir para a denúncia das patifarias a que todos os dias assistimos.
A mim já nada me surpreende vindo do bando que “tomou” conta deste País, autêntica comissão liquidatária. Surpreende-me sim a inércia da dita oposição de esquerda que na prática só se faz ouvir quando lhes concedem algum “tempo de antena” fora disso?
 
Entretanto assistimos à derrocada do nosso País. À venda por pechincha e meia daquilo que ainda vai sobrando. À destruição do nosso tecido económico e social. A um aumento vertiginoso do número de desempregados a certeza que vamos deixar para as próximas gerações um País desfeito e o que sobreviver fica na mão de potências estrangeiras, mais ou menos emergentes.
 
Lembro-me de uma das atoardas usadas contra as forças revolucionárias a seguir ao 25 de Abril, acusando-as de praticar uma “política de terra queimada”. Mas quem está a queimar esta terra, até às cinzas é a direita ultraliberal instalada no aparelho do Estado. Mas lamentavelmente parece que pacificamente se aceita que assim seja e em 2015 logo se vê.
Não vi nem ouvi nenhum dirigente político da oposição apontar o caminho da rua a estes energúmenos em figura de “Governo” o que não é mais do que uma estranha cumplicidade. Também não vejo qualquer vontade de juntando o essencial e deixando o acessório,  a oposição trabalhar para criar uma alternativa credível à actual situação.
 
Enganem-se os que esperam que quanto mais tempo passar mais votos vão ganhar. As vítimas do estado a que chegarmos nessa altura, não perdoarão aos causadores, mas também não o farão em relação aos que deviam fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para o evitar e sinceramente sou dos que pensa que não o estão a fazer.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

FMI

A primeira vez que tive acesso a uma gravação (em cassete, dado que só mais tarde foi editado) desta verdadeira pérola, chorei copiosamente, talvez porque  muito do que o José Mário diz neste verdadeiro grito, tocou-me profundamente como um verdadeiro murro no estômago. Hoje mais do que nunca ouvir isto, com o som no máximo é para mim um acto de descompressão. Não se aconselham posts tão grandes, mas aqui vai para quem tiver pachorra para ouvir e ler se for o caso.
Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto.
Chama-se FMI.
Quer dizer: Fundo Monetário Internacional.
Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos...
É o internacionalismo monetário!
 
FMI
 
Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o Mortimor do Meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attaché-case' sai a solução!
 
FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI
 
Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!
 
FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico hara-kiri
FMI Panegírico, pro-lírico daqui
 
Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!
 
FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...
 
Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, VIM na cozinha, VIM na casa-de-banho, VIM no Politeama, VIM no Águia D'ouro, VIM em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te arrulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Moshe Dayan que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o Astro, não é filho? O cabrão do Astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus zodíacos: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? A-ni-ki-bé-bé, a-ni-ki-bó-bó, tu és Sepúlveda, tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala em ritmo de pop-chula, não é filho?
A one, a two, a one two three
 
FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...
 
Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! 'Camóne' Luís Vaz, amanda-lhe com os decassílabos que eles já vão saber o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal,zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr o marfil, homem, andas numa alta, pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?
 
FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...
 
Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer-se dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas é sempre o mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica! Lourosa! Lourosa! Marrazes! Marrazes! Fora o arbitro, gatuno! Qual gatuno, qual caralho! Razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Vão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, afinfa-lhe o Bruce Lee, afinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o hoscópio, dois ou três ovniologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-chula, pop-chula pop-chula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, desopila o fígado, arreda, T'arrenego Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...
 
Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
 
Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de Lavacolhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.
 
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.
 
José Mário Branco - FMI
 
Nota: FMI foi editado originalmente em 1982 no maxi Som 5051106, e reeditado em 1996 em 'Ser Solidário' ( EMI-Valentim de Carvalho). Aconselha-se vivamente a sua audição. Webmaster: (email no longer available) (Criado em 08/2002)
 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O silêncio - Arnaldo Antunes (Ao vivo no estúdio 2007)


Compositor: Arnaldo Antunes / Carlinhos Brown


antes de existir computador existia tevê
antes de existir tevê existia luz elétrica
antes de existir luz elétrica existia bicicleta
antes de existir bicicleta existia enciclopédia
antes de existir enciclopédia existia alfabeto
antes de existir alfabeto existia a voz
antes de existir a voz existia o silêncio
o silêncio
foi a primeira coisa que existiu
um silêncio que ninguém ouviu
astro pelo céu em movimento
e o som do gelo derretendo
o barulho do cabelo em crescimento
e a música do vento
e a matéria em decomposição
a barriga digerindo o pão
explosão de semente sob o chão
diamante nascendo do carvão
homem pedra planta bicho flor
luz elétrica tevê computador
batedeira, liquidificador
vamos ouvir esse silêncio meu amor
amplificado no amplificador
do estetoscópio do doutor
no lado esquerdo do peito, esse tambor

domingo, 26 de agosto de 2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"Como um sonho acordado"


Nota: Diário da viagem, Fernão Mendes Pinto
 
“Como um sonho acordado "Embarcado num jurupango, com o Mouro Coja Ale, feitor do capitão de Malaca, fomos surgir no rio de Parles no Reino de Quedá. Nesse tempo, estava o rei celebrando com grande aparato e pompa fúnebre as exéquias da morte de seu pai, que ele matara às punhaladas para casar com a sua mãe que já estava prenhe dele. Para evitar murmurações mandou lançar pregão que sob gravíssimas mortes ninguém falasse no que já era feito. Mas Coja Ale era de sua natureza solto de língua e muito atrevido em falar o que lhe vinha à sua vontade. E foi assim que preso por soldados fui chamado ao rei e olhando para onde ele me acenava, vi jazer de bruços no chão muitos corpos mortos todos metidos num charco de sangue. Entre eles o mouro Coja Ale. Por mais de uma grande hora estive como pasmado, debaixo de abano, sem poder falar, arremessado aos pés do elefante em que el-rei estava. Depois de perdoado pelas lamentações e desculpas toscas, mas que vinham ao momento muito a propósito, me fiz à vela muito depressa pelo grande medo e risco de morte em que me vira"
Retirado da Net.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Esta Velha Angústia

Esta Velha Angústia
 
Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...

Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer —
Júpiter, Jeová, a Humanidade —
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

Estala, coração de vidro pintado!

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa



Opiniôes com interesse.

Hoje rumei a Sul pela A8 e A17. Às moscas… Que país!, duas auto-estradas paralelas que se namoram, estádios que de um Euro – não é esse… -megalómano passaram para as mãos de ervas gulosas, queda brutal das vendas de automóveis, mas teimosia na quantidade de cavalos desejados. Os noticiários. E o espanto em face da solução bicéfala preconizada para o Bloco. Porque é moderno? Rigorosamente falso. Por um homem e uma mulher mimetizarem a realidade social? Um bocado heterocêntrico, acho eu. Digna e não própria do século XXI, e já testada, será a escolha de quem se julga melhor para o desempenho do cargo, independentemente do sexo. Tudo indica a tentativa de equilíbrio entre tendências, os jogos de sombras, a “partidarite crónica” disfarçada. Tenho pena. Muitos amigos meus militam no Bloco. Fizemos campanhas juntos por causas que nos continuam a unir. Votei com eles algumas vezes, embora o PS seja o espaço político natural em que fui criado nunca alinhei no estatuto de “independente pseudo-independente”. Que vota porque está de acordo ou simplesmente por ser útil; útil é o voto que me deixa de consciência tranquila, incluindo o branco, só a abstenção me está vedada, meu Pai não me perdoaria o alheamento das decisões sobre o governo da Cidade. Num passado não muito longínquo o Bloco enveredou por estratégias que considerei erradas e levaram a pesados recuos eleitorais. Se este caminho para a liderança for mal conduzido o declínio acentuar-se-á. Na opinião pública e nas urnas. E o Bloco, que marcou passo na fronteira entre o charme da adolescência e a fiabilidade adulta – eu sei, eu sei, existirá tal coisa em cada um de nós e na política?…  poderá afastar-se dela irremediavelmente.
 
Julio Machado Vaz (via Facebook)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Traz Outro Amigo Também - José Afonso

Talvez o poema do Zeca que melhor simboliza a palavra amizade, dedico-o a um amigo muito especial, num momento também muito especial.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O último português com emprego.

Apesar de não gostar muito de brincar com coias sérias, não resisto a publicar este vídeo.

domingo, 19 de agosto de 2012

SE OS FILHOS DA PUTA VOASSEM...NUNCA MAIS SE VIA O SOL!

Si els fills de puta volessin no veuríem mai el sol !
Cançó de Quico Pi de la Serra interpretada per Marc Parrot.
Àlbum - 50 anys de la nova cançó

Surripiada ao Rui Pato via Facebook

sábado, 18 de agosto de 2012

José Afonso - Epígrafe para a arte de furtar


Música: Zeca Afonso.Letra: Jorge de Sena

In: Traz outro amigo também.
     Roubam-me Deus Outros o diabo Quem cantarei Roubam-me a Pátria e a humanidade outros ma roubam Quem cantarei Sempre há quem roube Quem eu deseje E de mim mesmo Todos me roubam Quem cantarei Quem cantarei Roubam-me Deus Outros o diabo Quem cantarei Roubam-me a Pátria e a humanidade outros ma roubam Quem cantarei Roubam-me a voz quando me calo ou o silêncio mesmo se falo Aqui d'El Rei.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

"Regabofes"


Paulo Portas aceitou pagar 30 milhões de euros a mais pelos dois submarinos adquiridos ao consórcio alemão German Submarine Consortium (GSC), em 2004, quando assumia a pasta da Defesa. Apesar de o ex-ministro ter pedido que a qualidade do equipamento fosse reduzida, por questões financeiras, aceitou pagar o valor inicialmente acordado pelos navios. VER NOTÍCIA COMPLETA

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Galo é o Dono dos Ovos


O Galo é o Dono dos Ovos

Sérgio Godinho

O galo é o dono da casa
a galinha, da cozinha
ou se porta direitinha
ou apanha com a asa
que o galo é o dono da casa

O galo canta de galo
a galinha cacareja
e o pintainho deseja
o fim de tanto badalo
e o galo canta de galo

O galo come faisão
a galinha é quem o assa
e o pobre do pinto passa
passa uma fome de cão
e o galo come faisão

O galo é o dono dos ovos
a galinha é quem os bota
e o pinto é compatriota
da miséria de outros povos
que o galo é o dono dos ovos

Por mais que cante de galo
o galo está a dar o berro
é que nem com mão de ferro
faz do pinto seu vassalo
por mais que cante de galo

Anda amarelado o galo
como a gema que o pariu
o sol nunca lhe sorriu
quanto ao pinto é um regalo
não há sol que não o tisne
o galo canta de galo
para o pinto é canto do cisne.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Tomates...

Estava numa de contemplação do horizonte que ainda me é permitido ver e ouvia umas musicas de festas nos arredores e pensava nos últimos acontecimentos do dia, da semana e antes e antes. Quando ao longe (não tanto como isso) olho e vejo uma chaminé alta construída em tijolo de (burro) .Esta chaminé faz parte daquilo que foi outrora conhecida como a fábrica do tomate. Eu explico. Vivo, ainda me dou ao luxo de ter uma segunda habitação que se tornou na primeira , nos campos do Lis (se alguém estiver interessado está à venda)..

À volta, há centenas de hectares em pousio, até eu tenho para aí 1/4 nessas condições, que para além de uma limpeza duas vezes por ano (e pagar o regadio) mantenho um casal de cabritos (ou seja uma cabra e um dito) que vão rapando o que vai sobrando.

Pronto mas os pensamentos são lixados e lá fui magicando que um dos problemas deste País é o da falta de tomates, sim daqueles sumarentos. A gente sabe que os grandes “magazans” que por aí proliferam não têm falta disso. Mas não têm nada a ver com os tomates que por aqui e ali ainda se vão cultivando e segundo parece até em crescendo. Até conheço amigas e amigos que os vão cultivando nas varandas dos seus apartamentos. Mas isso não é nada, quanto muito dá para acompanhar uma ou outra sardinhada.

Tomates com fartura para dar e vender, em fresco, em polpa, congelados mas sempre muito sumarentos. Já imaginaram se hoje aquele dinheiro que se gastou algures no Algarve a passear de automóvel e buzinando, fosse gasto em tomates o quanto aumentaria o consumo deste produto com grandes potencialidades de cultivo nacional… se a moda pegasse talvez pedisse um subsidio para aí investir, pois porque isso de investir noutras coisas, não passa de um “regabofe.

Tomates, tomates é que são precisos!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

5. O mar enrola na areia - Jorge Palma

Bem. Como o pessoal anda numa de banhos (e até se esquece das banhadas que está a levar) e a discutir o tempo que faz e não faz, bom ou mau para os banhos,  mais o bom ou mau tempero dos caracóis. aqui deixo uma versão em "Português Suave" do Jorge Palma.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Poema de segunda-feira para Carlos Drummond


Ah, segunda-feira ensolarada,
 Não estranharia se estivesses cinza…

Triste é teu semblante nesta segunda-feira amarga.
 Estampado no rosto
 Do poeta, do lixeiro, do professor
 Do teu semblante no espelho, cansado de ser e refletir,
 essa fadiga de estar sendo e indo
 aqui, nesse lugar
 o relógio determinando teu ritmo
 tua hora de chegar e de sair de correr e de dormir
 esses funcionários, uniformizados, tão práticos
 solicitando prazos disto e daquilo,
 felicitações ao Sr. Diretor, ao Sr. Gerente, ao Sr. Doutor…

Ah, os buzões abarrotados
 os pombos, os cigarros, os semáforos
 os policiais policiando
 os meninos de rua
 os engarrafamentos
 os metrôs
 as duras estações da pressa
 o ódio nos esbarrões, nas buzinas
 gente espremida contra as janelas
 um bando de gente morta
 indo maquinalmente para o trabalho
 distantes de tudo e todos
 e mais distantes ainda de si.



E não há flor nem lua nem poema que que tire essa gente do abismo
 Essa selva de carros edifícios ruídos motores válvulas e fios telegráficos
 e anúncios anúncios e mais anúncios mentiras e mais anúncios:

“Venha morar no Setor Noroeste,
 um modo verde de se viver!…”

ah, esse gente triste
 indo para o trabalho
 esse gente triste
 das especulações imobiliárias
 esse gente triste
 segue, alheia de si
 como o boi para o abate

Ah, poeta, a tua flor
 a rosa do povo
 ainda que feia
 ainda que suja
 ainda brotará do asfalto?
A. Canuto (Sabiá Duqueza)

sábado, 11 de agosto de 2012

Primeiro Beijo

Nos tempos conturbados do presente em que a esperança no futuro nos está a dar cabo dos bons momentos, saibamos viver a felicidade que a vida nos dá e que utilizando o porto seguro que significa o sermos capazes de amar e nos sentirmos amados, seja o ponto de partida para enfrentar o “monstro” que já está aí, mas que juntos enfrentaremos e certamente, derrotaremos.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

"Haja caracóis e cerveja este Verão!"


"Se o Estado nos dá pancada, se nos trata como imbecis, se nos vai ao bolso, se nos mente descaradamente, é irrelevante! Nada nos faz mexer".

"Nós, portugueses, somos imóveis. Duas ou três larachas ditas por quem quer que seja no momento oportuno e preferimos acreditar a pensar. E se não acreditamos, pouco importa. Também não nos rebelamos. Nem nos incomodamos. Aceitamos tudo, desde que não tenhamos de agir ou sequer de pensar criticamente.

"Se o Estado nos dá pancada, se nos trata como imbecis, se nos vai ao bolso, se nos mente descaradamente, é irrelevante! Nada nos faz mexer. Se está bem para os demais, porque não há-de estar bem para mim? Se o vizinho não sai à rua para protestar, porque sairei eu? E se ele sai, problema dele. Eu fico no meu canto. Quem sabe tudo se resolve a bem, sem que eu tenha de me incomodar. E aí também recolho o benefício". VER ARTIGO COMPLETO.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

domingo, 5 de agosto de 2012

Adiamento

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
          
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
           
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...

Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
          
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...

Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...         
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
          
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
          
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...

    Álvaro de Campos

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

"O divino balanço do andar" da "Garota de Ipanema" faz 50 anos

Olha que coisa mais linda/ Mais cheia de graça/ É ela menina/ Que vem e que passa”. Foi num clube no Rio de Janeiro, a 2 de Agosto de 1962, que estas palavras se ouviram pela primeira vez. Passaram-se 50 anos e "o encontro entre a beleza da música e a beleza da musa" tornam a Garota de Ipanema conhecida por várias gerações um pouco por todo o mundo. Uma música que, por falta de pássaros, só arrancou na segunda versão e que, por acaso, nasceu bossa nova, mas se adapta a qualquer outro estilo musical. VER MAIS

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Zeca 83 Anos


Se estivesse vivo José Afonso faria hoje 83 anos. De facto, fisicamente não está entre nós. Mas quem acompanha a sua obra sabe, mais do que nunca que a sua obra já se tornou  imortal. Mais do que nunca se sente o quanto nos faz falta, para "empurrar e animar a malta".

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Listas negras

"Mais de 320 mil portugueses já estão em listas negras"

"Existem 322 mil particulares ou empresas incluídos em pelo menos uma das listas negras oficiais que foram criadas ao longo dos últimos anos em Portugal. Sejam cheques carecas, seja o não pagamento de serviços de telemóveis, seja por acumularem dívidas às Finanças ou à Segurança Social, todos estes casos dizem respeito a um incumprimento. O número de portugueses nestas listas, contudo, irá crescer a olhos vistos nos próximos meses. Não só porque vão ser criadas mais duas listas de devedores, para as contas do gás e da luz, mas também porque a dívida mínima no caso das telecomunicações vai ser reduzida para 75 euros (ver texto ao lado), limite idêntico ao que vai ser imposto no gás e luz.

A estes 322 mil casos há ainda a juntar as quase 700 mil famílias com créditos em incumprimento, por exemplo, que, apesar de não estarem incluídas numa lista oficial, não conseguem omitir o seu caso a nenhum banco, já que todos têm acesso a estes dados". VER MAIS


Segundo julgo até à data não consto de qualquer lista negra e não entrei em incumprimento nos créditos que detenho. Quem sabe até quando?
Não tenho dúvidas que parte dos “listados” o estão por irresponsabilidade, dado que gastaram mais do que podiam pagar. Mas também não tenho duvidas que muitos deles foram surpreendidos por situações imprevistas e cuja responsabilidade “moral” não lhes pode ser assacada.

A mim assusta-me, pois sabemos que todos os dias há novos incumpridores e como tal serão tratados como leprosos ou a caminho disso. Situações que me fazem sempre lembrar o celebre poema de Brecht .

Quantos de nós estaremos imunes a fazer parte de uma dessas listas. Mesmo que durante uma vida inteira tenhamos sido cumpridores?