Sidónio Muralha
A menina bexigosa viu-se ao espelho
soltou-se do vestido e viu-se nua
está agora vestida de vermelho,
inerte, no passeio da rua
soltou-se do vestido e viu-se nua
está agora vestida de vermelho,
inerte, no passeio da rua
Antes fora alegria e alvoroço
mas num baile ninguém a foi buscar
morreu o sonho no seu corpo moço
passou a noite a chorar
mas num baile ninguém a foi buscar
morreu o sonho no seu corpo moço
passou a noite a chorar
Tanto chorou que lhe chamaram louca
cada qual lhe levava o seu conselho
mas ninguém ninguém ninguém lhe beijou a boca
e a menina bexigosa viu-se ao espelho
cada qual lhe levava o seu conselho
mas ninguém ninguém ninguém lhe beijou a boca
e a menina bexigosa viu-se ao espelho
Depois, fecharam a janela
vieram os vizinhos: ´Pobre mãe...´
vieram oa amigos: ´Pobre dela...´
´era tão boa e simples tão honesta,
... portava-se tão bem´
vieram os vizinhos: ´Pobre mãe...´
vieram oa amigos: ´Pobre dela...´
´era tão boa e simples tão honesta,
... portava-se tão bem´
E dão-lhe beijos na testa
beijos correctos pois ninguém, ninguém
soube em vida matar a sua sede
beijos correctos pois ninguém, ninguém
soube em vida matar a sua sede
A menina bexigosa portava-se tão bem´
O espelho continua na parede.
O espelho continua na parede.
3 comentários:
Muita gente associa o nome de Manuel Freire apenas à Pedra Filosofal. Pelos vistos é muito mais que isso. Muito bom.
Um grande abraço.
Que poema tão triste! Sidónio Muralha tem poemas tão bonitos! Mas este faz lembrar a situação deste país triste que não coragem de se levantar e lutar contra as suas pretensa bexigas...
Bom fim de semana!
*
num dia treze chuvoso,
sexta-feira perigosa,
a menina bexigosa,
junta-se a um povo . . . choroso.
,
ventanias chuvosas,
(hoje)
deixo,
*
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