José
Saramago
Fala do velho do Restelo ao astronauta
Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.
4 comentários:
Até quando? ATÉ QUANDO?
Beijo
Infelizmente cenas que nuncas se acabam minha amiga,,,grande beijo de boa noite e obrigado pela sua visita,,,volte sempre...
Quando lancei minha homilias, há quase dois anos, houve muita gente que disse ir ser, como eu, apóstolo.
Foram ficando pelo caminho...
Por isso leio-lhe isto com carinho
As palavras necessárias precisam de seguidores. Mesmo que não se limitem a Saramago...
Precisamos de liturgias de valores...
Não conhecia... Obrigado pela partilha
Abraço
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