quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A Indiferença

Creio que uma das consequências de muito do que se está a passar em Portugal e no mundo é a indiferença com olhamos para o que de mal vai acontecendo aos outros.

Quando ”vemos ouvimos e lemos “ os números do desemprego, o números de falências, o números de pessoas sem médico de família, o custo dos medicamentos, o número de pessoas sem-abrigo, o número de pessoas que ficaram sem casa por não a conseguirem pagar, o número de professores sem colocação, o número de pessoas que diariamente se suicidam. Vamos ficando indiferentes e limitamo-nos a lamentar.

Quantos de nós nos interrogamos se amanhã nos podemos encontrar numa destas situações. Quantos de nós percebemos que tudo isto foi acontecendo gradualmente e muitos dos que já vivem numa destas situações também foram indiferentes antes de a desgraça lhe bater à porta?

Esta Sociedade, este mundo para além de todos os males que deixámos que lhe fizessem, pôs-nos a olhar para o umbigo, tornou-nos egoístas. Até que um dia, quem sabe também nós faremos parte das estatísticas.

Que a indiferença que sobre nós se abate não se torne no nosso próprio carrasco.

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.

Bertolt Brecht

4 comentários:

Anónimo disse...

Pensamos sempre que o mal só acontece aos outros. É curioso que ainda ontem pensei nisto a propósito daquele casal que foi assaltado barbaramente em Sesimbra. Pensei logo de seguida: "Um dia poderá tocar a mim". E pensei logo em arranjar uma arma de defesa pessoal. Pela maneira como as coisas andam talvez seja mesmo o melhor a fazer.

Carlota Pires Dacosta disse...

Pensar até pensamos.
Não nos tornámos egoístas, limitamo-nos a deixar andar.
Já não somos o povo guerreiro de outros tempos.
Já não somos o povo que um dia se uniu e lutou contra o que estava mal.
Se calhar é mesmo isto que faz falta.

Beijo

Anónimo disse...

O LOL roubou-me pate do comentário :-) Era exactamente por aí que eu ia pegar, mas depois em vez de Sesmbra rumaria até Peniche e ao Algarve onde, apesar dos sinais de perigo as pessoas, com ar entendido, justificam a transgressão afirmando peremptoriamente "aquilo ali está seguro. Não há problema nenhum!"
Povinho foleiro, este...

Graça Sampaio disse...

Que excelente poema! Não conhecia, não senhor. Por isso ainda bem que aqui vim. Por isso lhe agradeço tê-lo posto aqui.