segunda-feira, 15 de agosto de 2011

As ofensas provocam inevitavelmente Conflitos.

Nasci na casa da minha Avó na Marinha Grande. Uma casa que sempre adorei, que apesar de se encontrar praticamente no centro do que é hoje uma cidade, nunca teve luz eléctrica e muito menos água canalizada. Quando tinha 5 anos a família foi contemplada com uma casa atribuída pelo património dos pobres, uma instituição ligada à igreja, dada a ausência de condições para lá continuamos a viver. Um único salário na casa e a doença permanente da minha Mãe contribuíram para essa benesse.

A nova casa tinha as condições mínimas para se viver. Recordo a discussão com o meu irmão mais velho (éramos só dois, viriam mais tarde outros dois) para escolher a cama do quarto que seria o nosso.

Esta casa situava-se (já não existe) no Pinhal da Feira onde está hoje o estádio municipal e a zona desportiva, para além de ser atravessado pela ribeira das Bernardas.

Electricidade e água canalizada também eram "luxos" que não estavam ao nosso alcance.
Para nos alumiarmos havia dois ou três candeeiros a petróleo. O abastecimento de água era feito através de um poço colectivo cuja qualidade da água era suspeita e só se utilizava para as coisas menos perigosas. Para consumo humano recorríamos a uma fonte conhecida pela “biquinha”. A minha mãe lá ia com o cântaro à cabeça e nós com garrafões de 5 litros.

Luxos, como um simples frigorífico ou qualquer outro electrodoméstico estavam-nos vedados.
Claro que também não havia iluminação publica o que tornava a rua num local pouco aconselhável para passar o tempo. Restava-nos a leitura, mas pouco porque o petróleo era caro e nem sempre conseguíamos enganar os País prolongando o tempo pré-determinado.

Teria para aí 13 anos quando finalmente a luz e mais ou menos na mesma altura, a água chegaram. Uma sensação indiscritível. Também já éramos gente!

Estas memórias que notícias dos últimos dias avivaram, dado que muitas famílias hoje já não conseguem pagar a electricidade e ficam sem a poder utilizar, acrescentando o brutal aumento do Iva programado, a situação vai inevitavelmente piorar.

Quando ouvimos o actual primeiro-ministro afirmar que o "Caminho da conflitualidade não é o que desejamos para Portugal" que se pode entender quando provoca um aumento desta natureza num produto essencial para o mínimo de dignidade do ser humano. Sim! É uma ofensa e as ofensas provocam inevitavelmente conflitos.

7 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Quando as palavras
são procuradas
e na alma são encotradas
os textos ficam assim

A ofensa é de facto imensurável
e, se não conflitos, ouvir-se-ão palavras de forte contestação. Talvez não passe daí. Ou talvez passe...

Teófilo Silva disse...

Claro que tem de criar conflitos. Lá diz o provérbio: Quem semeia ventos, recolhe tempestades!

Um abraço.

Pedro Coimbra disse...

Electricidade e água lá são bens essenciais, Rodrigo....
Que disparate!
O País não tem dinheiro para luxos, pá! :)))
Como é que os aml-educados chamam aos descendentes das prostitutas???

Carlota Pires Dacosta disse...

Para lá se vai caminhar meu amigo.
Sem água, sem luz, e pior sem comida!!

beijo

Anónimo disse...

Vamos atrevessar momentos muito dificeis.Momentos de desespero em que muitos não vão poder pagar a electrecidade e o gás.E também a comida indespensável à dignidade do ser humano.
Não se admirem depois que o desespero dê lugar a momentos de exaltação e que o povo se revolte contra as politicas de mentira dos partidos da troika.E depois se as grandes superficies forem invadidas,não venham dizer que são uma camada de vandalos sem educação.A fome não é nunca boa conselheira !

Maria de Fátima Filipe disse...

Infelizmente a malta está toda anestesiada, agora só para o ano é que o pessoal acorda...

Abraço

Anónimo disse...

Se as pessoas não acordarem e silenciarem o seu descontentamento, espero dias ainda mais difíceis, com o avolumar de injustiças. Daqui a quatro anos, não restará um só cravo de Abril, porque os esbanjámos sem remorso.
E o problema, é que não haverá outro Abril nos próximos anos e Seguro não inspira qualquer confiança, porque é mais do mesmo.