Poema do Homem Só
António Gedeão
Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.
6 comentários:
E da dádiva de nós, resulta o esvaziamento de nós, astros arrefecendo... à espera.
Beijo
Paixão e entrega. Gostei muito querido amigo.
Um grande bj
Esta amargura, tão distante da Pedra Filosofal... Recorda-se de eu ter ficado perturbado por ele ter deixado suas memórias aos tetranetos?... Sejamos mais esperançosos... Se o pudermos... Da beleza do poema, nem falo.
Brevemente falaremos sobre Gedeão e outros Poetas...
Abraço,
António
A sua visita, breve ou demorada, é sempre um prazer...
e uma honra!
Belo poema, Rodrigo. E mais não digo...
Abraço
Na vertigem da pressa dos dias, corremos este risco, Rodrigo.
Aquele abraço
Enviar um comentário