José Fanha
Os Resistentes
Acumulam derrotas e naufrágios.
Perderam amigos e haveres.
Mas sonham.
Caíram dez vezes
e onze se levantaram.
Porque sonham.
Nos seus olhos há torrões
de terra
cordões umbilicais
e a espuma vermelha de cavalos verdes.
Eles sonham.
Em cada gesto deixam a pairar
um aroma essencial de coiro curtido
ou alfazema.
Renascem dia-a-dia
agarrados à palavra mais fraterna
de todos os alfabetos.
São meninos transparentes
no imenso carrossel da luz.
Entram pela casa do padeiro
como fosse a sua.
Entram pelo mar do pescador
e compartilham peixe
e cicatrizes ancestrais.
Atravessam oceanos para levar o lume
ao alto das montanhas.
Falam na língua do cristal e da prata.
Bebem vinho.
Cantam.
Afagam a memória.
Passam devagar um dedo pela linha
de cada ruga e relembram
as margens duras do fogo
tornando mais amável
a imensa geografia deste mundo.
6 comentários:
Lindissimo, caro Rodrigo!... e oportuno - como sempre! Obrigado.
Um abraço.
Caro folha seca,
O próprio José Fanha talvez também o seja. E resistentes precisam-se neste país.
Um poema Imenso e Magistral!
Saudações,
Clarisse Silva
Caro amigo:
Sonhar é resistir!
Muito belo este poema.
Curiosamente tenho o tema sonho no meu último post.
Sou seguidora do blogue do José Fanha, veja aqui:
http://queridasbibliotecas.blogspot.com/
beijinhos e boa semana
Cada vez mais são precisos - os resistentes!
Bem lembrado!
Resistir é preciso e o Fanha não o diz da boca para fora. É um exemplo de resistência.
Obrigado por o ter lembrado aqui, Rodrigo
O Fanha está tão gordo, Rodrigo!!
Lembra-se de quando ele se deu a conhecer ao grande público (o concurso "A visita da Cornélia")?
Depois o fabuloso Pão com Manteiga com o Mário Zambujal, o Carlos Cruz, o Bernardo Brito e Cunha,.....
Grandes memórias!!
Aquele abraço
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