terça-feira, 26 de julho de 2011

Balada para uma Velhinha

Dedicada aos Avós de todos nós
Balada Para uma Velhinha
Carlos do Carmo
Composição: Ary dos Santos

Num banco de jardim uma velhinha
está tão só com a sombrinha
que é o seu pano de fundo.
Num banco de jardim uma velhinha
está sozinha, não há coisa
mais triste neste mundo.
E apenas faz ternura, não faz pena,
não faz dó,
pois tem no rosto um resto de frescura.
Já coseu alpergatas e
bandeiras verdadeiras.
Amargou a pobreza até ao fundo.
Dos ossos fez as mesas e as cadeiras,
as maneiras
que a fazem estar sentada sobre o mundo.
Neste jardim ela
à trepadeira das canseiras
das rugas onde o tempo
é mais profundo.
Num banco de jardim uma velhinha
nunca mais estará sozinha,
o futuro está com ela,
e abrindo ao sol o negro da
sombrinha poidinha,
o sol vem namorá-la da janela.
Se essa velhinha fosse
a mãe que eu quero,
a mãe que eu tinha,
não havia no mundo outra mais bela.
Num banco de jardim uma velhinha
faz desenhos nas pedrinhas
que, afinal, são como eu.
Sabe que as dores que tem também são minhas,
são moinhas do filho a desbravar que Deus lhe deu.
E, em volta do seu banco, os
malmequeres e as andorinhas
provam que a minha mãe nunca morreu

11 comentários:

Anónimo disse...

Já não ouvia isto à décadas. Foi bom recordar esta grande voz do fado.

Anónimo disse...

(há décadas) - quis eu dizer. :)))

Mery disse...

Olá, bom dia, passei por aqui e vi essa velhinha, só pela imagem, me interessei, li e ouvi o vídeo, me fez chorar...muito, quantas velhinhas ficam sozinhas no final da vida, é triste, mas resta ainda o sol...
Abraços da Mery

Graça Sampaio disse...

Os sempre belos poemas de Ary - homem de força - aliados (como em muitas canções) à voz melodiosa de Carlos do Carmo.

Porque será que as canções e poemas sobre as avós são semre tristes e dolentes? Talvez porque grande parte das avós e dos "avôs" viveram a vida cinzenta daqueles tempos que queremos esquecer. Ou porque já partiram.

Gisa disse...

Mulheres que merecem todo o respeito e admiração.
Um grande bj

Rosa dos Ventos disse...

Gosto muito do poema e da forma com Carlos do Carmo o canta...
É mesmo triste a canção!
E vê-se tanta mulher sozinha...
Há dias reparei nisso em Lisboa, circulava uma pelo Largo do Carmo, envergando roupas que já tinham sido elegantes, despenteada, com um olhar alheado que me deu um nó na garganta!

Mar Arável disse...

Excelente memória viva

Anónimo disse...

Há muito tempo que não ouvia isto Rodrigo. Boa evocação num momento em que o Fado se candidata a Património Imaterial da Humanidade

Manuel Veiga disse...

abraços

Pedro Coimbra disse...

Rodrigo,
A solidão dos idosos é uma das coisas que mais me revolta.
Vivo angustiado com receio que os meus pais se sintam sós.
Quem me dera poder tê-los ao pé de mim, tomar conta deles.
Um abraço

Pedro Coimbra disse...

Rodrigo,
Li o comentário no blogue da Carlota.
E lá vieram as memórias de juventude.
Por causa do Honda 600.
Eu tive um Fiat 600, o meu primeiro carro, que custou 9 contos.
Um amigo meu, o Becas, tinha o Honda 600.
Que foi um carro com história e cheio de estórias.
O carro que começou a cheirar intensamente a queimado numa viagem sem que houvesse razão para isso.
De repente, o Becas dá um grito e começa a dar palmadas no peito.
Porquê?
Porque o cigarro que ele tinha atirado fora, em andamento e com a janela aberta, voltou para trás com o vento, enfiou-se no bloso da camisa e já lhe estava a queimar o peito.
Não era o carro que estava a cheirar a queimado, era mesmo o Becas (leitão assado, como a malta lhe passou a chamar durante algum tempo)!!
O mesmo Honda 600 que, a descer o Vale do Inferno, foi ultrapassado por uma roda.
Tudo a rir até ao momento em que o carro tombou.
A roda que nos ultrapassou era a roda de trás do carro que tinha saído!!
Foi tempo de o vender.
Mais boas memórias.
Um abraço