domingo, 31 de julho de 2011

Balada dos Aflitos


BALADA DOS AFLITOS

Irmãos humanos tão desamparados
a luz que nos guiava já não guia
somos pessoas - dizeis - e não mercados
este por certo não é tempo de poesia
gostaria de vos dar outros recados
com pão e vinho e menos mais valia.

Irmãos meus que passais um mau bocado
e não tendes sequer a fantasia
de sonhar outro tempo e outro lado
lcomo António digo adeus a Alexandria
desconcerto do mundo tão mudado
tão diferente daquilo que se queria.

Talvez Deus esteja a ser crucificado
neste reino onde tudo se avalia
irmãos meus sem valor acrescentado
rogai por nós Senhora da Agonia
irmãos meus a quem tudo é recusado
talvez o poema traga um novo dia.

Rogai por nós Senhora dos Aflitos
em cada dia em terra naufragados
mão invisível nos tem aqui proscritos
em nós mesmos perdidos e cercados
venham por nós os versos nunca escritos
irmãos humanos que não sois mercados.

"Acabei de escrever este poema e gostaria de o partilhar com os amigos, Manuel Alegre por Manuel Alegre, quinta, 23 de junho de 2011 às 15:46"
surripiado na página do facebook

12 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Não sei se Manuel Alegre será lembrado por aquilo que disse e fez. Talvez. Mas não tenho dúvidas que o será pelas letras, poemas e canções.
(tenho presente imensas incoerências e não consigo esquecer o que escreveu Saldanha Sanches aantes de morrer...)

folha seca disse...

Caro Rogério
Acho que há um problema para que certamente, algum(s) estudioso(s) da matéria um dia vão encontrar explicação. O valor dos nossos grandes homens em vários campos, só lhe é verdadeiramente reconhecida quando partem. Enquanto vivos alguns vão sendo reconhecidos. Outros nem tanto. Saldanha sanches faz-me recordar inscrições nas paredes feitas clandestinamente do tipo "liberdade para "Saldanha Sanches". Nesses tempos tambem me recordo quando a mim e a muitos outros o "seu partido" nos tratava por Social-Fascistas. Demorei tempo a reconhecer neste homem a integridadade a clareza e a honestidade de que veio a dar provas. Caso para dizer "era desta gente que precisávamos, para ir pondo os pontos nos (ís) infelizmente partiu cedo demais. Já sentimo a sua falta (e de que maneira.
Quanto a Manuel Alegre pouco ou mais terei a dizer porque na altura certa fui dizendo o que pensava.
Esperemos que não parta cedo. Pois a sua poesia faz falta (a mim faz) por isso publiquei este poema hoje. Não por ser mais um poema. Mas porque está lá muito do que me apetece dizer.
Agora em Santos, não acredito.
Abraço

Graça Sampaio disse...

Que lindo! Alegre é um grande poeta. (E teria sido um bom presidente. Mas preferiram este "sorrubeco"...)

Janita disse...

Rodrigo.
Não nutro uma simpatia nem admiração especial por Manuel Alegre, mas reconheço-lhe qualidades enquanto cidadão que se dedicou e empenhou na luta anti-fascista.
Como poeta é excepcional e um dos melhores da poesia contemporânea.

Amigo Rodrigo, gostaria de dizer-lhe algo muito importante. Eu comecei a trabalhar muito nova e ainda hoje trabalho. Em determinada altura da minha vida trabalhei e estudei, porque quis alargar os meus horizontes e enriquecer os meus conhecimentos. Descendo de uma família humilde e tal não foi possível na idade própria.
Acredite que o meu contributo à sociedade me dá o direito a um período de algum repouso.
Beijinhos e até breve.

Janita

folha seca disse...

Carol
Eu tambem pensava assim. Fiz qualquer coisinha para que assim fosse. "Mas a razão muita vez é vencida não deixando de o ser".

Janita
Manuel Alegre é um homem, como tal tem em si as controvércias próprias de o ser. Como disse ao Rogério, não acredito em Santos.
Quanto ao seu direito a férias, tentei brincar (só isso) mas admito que não tenho lá grande jeito. Nunca poría em duvida esse direito a ninguem, talvez um dia lhe diga porquê.
Boas férias!!!
Abraço

Anónimo disse...

As contradições de MA em nada diminuem a sua qualidade poética.
Obrigado pela partilha, Rodrigo

Ana Paula Fitas disse...

A Poesia é, sempre!, a Escrita de um Autor... mas, a Escrita transcende sempre a dimensão dos juízos sobre as Pessoas... :))
Um abraço

Pedro Coimbra disse...

Manuel Alegre, traído e abandonado por aqueles que se faziam passar por seus amigos, e, ainda por cima, com graves problemas financeiros.
Com dorme com cães.....
Um abraço

Hugo Nofx disse...

Camarada de blogue! Posso chamá-lo assim? Não leve a mal, sou eu a brincar.
Ainda bem que a Fê me fez descobrir o seu espaço!
A poesia do Manuel Alegre também me faz falta! Toda a poesia de que gosto, ajuda-me a respirar... e como tenho asma, a vidinha fica mais suportável. Não imaginava que ele partilhava poemas no Facebook. Curioso.
O poeta Alegre será sempre lembrado pela obra que nos deixa. Quanto à política, prefiro não entrar por aí, até porque respeito muito o seu passado anti-fascista!!!
abraço.

Ferreira, M.S. disse...

Caro Folha Seca,

Hoje que a poesia tomou conta do seu blogue, não consegui resistir a deixar um pequeno comentário.

Jamais a política se poderá sobrepor à poesia - daí que eu admire separadamente o poeta e a pessoa de Manuel Alegre pela sua escrita e pelo seu trabalho.

Não nego, contudo, que dou mais valor ao poeta, porque esse se coloca no patamar de onde lhe é autorizado descrever o mundo de uma forma destacada- quase independente - em relação à personalidade e aos actos da pessoa social que é Manuel Alegre.

Admito que possa estar a ser um pouco ingénuo, mas não esqueço que "o Poeta é um fingidor" como escreveu Fernando Pessoa.

Também eu espero poder continuar a ler durante muitos e longos anos o Poeta Alegre, Manuel de seu nome.

Um abraço

folha seca disse...

Caras amigas e caros amigos
Contei um dia no Largo das Calhandreiras o meu primeiro contacto com as palavras escritas de Manuel Alegre.
A sua actividade política contra a guerra colonial, a ditadura, pela instauração da Democracia e a sua consolidação, criaram bastantes anti-corpos.
Para mim que o apoiei recentemente em actos políticos, disso não tenho o mais pequeno arrependimento. Vejo Manuel Alegre pela dimensão do grande poeta que continua a ser. O poema que publiquei é muito recente. Revi-me nele.
Abraços

Unknown disse...

Gosto de toda a poesia saída da pena de M Alegre. Tem um esqueleto Central-Ideia Base - de justiça e de bem, de renovação e de um ideal melhor para todos.

Como político não sei dizer. Parece-me uma chama apagada, fazendo apenas parte de um todo.

Por último ainda existem as marcas de algumas contradições.