Há 2 dias publiquei com algumas considerações um texto da Renovação Comunista assinado por Carlos Brito. Embora formalmente, nada tenha a ver com esta organização, revi-me naquele texto e como tal dei-lhe o relevo, que considerei adequado. Sou dos que pensa que não basta constatar. É necessário agir para (que como alguém disse em 1 de Outubro) “evitar o desastre”.
Não sendo muito habitual, fui dando resposta aos comentários entretanto feitos. Um dos meus bloggers de referência Rogério Pereira decidiu aprofundar o tema fazendo um comentário onda expressa a sua opinião duma forma mais aprofundada. Como a tendência é os comentários ficarem perdidos na caixa dos ditos, chamei à primeira página o seu texto, até porque penso que esta discussão vai forçosamente continuar. Claro que neste blogue há direito ao contraditório.
Aqui Vai.
"Não estava muito virado para comentar o texto do documento da “Renovação Comunista”, assinado por Carlos Brito, por o julgar inócuo e inconsequente para a resolução do problema, que de facto é, a divisão da esquerda. O facto de assim pensar, não me impede de constatar que o meu caro a ele se agarrou e faz dele estandarte o que, para mim já passa a ser razão suficiente para rever a posição inicial de pura e simplesmente não lhe ligar. Até porque sendo publicado em vésperas da manifestação de 1 de Outubro e terminando o documento como termina, o tomei (e continuo a tomar) como uma mera afirmação de presença da RC.
Mas então vejamos alguns aspectos do que o documento diz e do que penso.
PONTO 1 - “Tamanha ambição, (a da direita de Passos Coelho) aliada a alguma inexperiência e a muita incompetência política, não deixa, no entanto, de provocar contradições e rivalidades no seu interior, originando zonas de fragilidade e de prováveis grandes tropeções.”
PONTO 1 - “Tamanha ambição, (a da direita de Passos Coelho) aliada a alguma inexperiência e a muita incompetência política, não deixa, no entanto, de provocar contradições e rivalidades no seu interior, originando zonas de fragilidade e de prováveis grandes tropeções.”
É um tremendo e perigoso erro de análise, como ponto de partida. Em Julho do ano passado afirmei que não me parecia haver nem inexperiência nem incompetência de PPP ao este comunicar a sua estratégia contra a constituição. Num post que editei em 26 de Julho de 2010 intitulado “Pactuar com a estratégia de Pedro Passos Coelho é entrar num labirinto de onde dificilmente se sairá. Deprecia-la, também não é caminho....:
” Quando se define, como Pedro Passos Coelho fez, uma estratégia labiríntica muitos se apressam a dizer que ela não leva a lado nenhum. Cuidado, PPC tem todo o percurso na mão, conhece os atalhos sem saída conhece os atalhos sem saída e, como foi ele que a desenhou, sabe que a única saída é a que conduz a uma consolidação dos interesses da classe que defende, dos ricos e dos poderosos... Nesse post e nos seguintes alertava sectores de esquerda para duas ideias que na altura defendiam: uma igualzinha à que CB vem agora referir no documento ao qualificar como incompetente e inexperiente, quando a meus olhos o não era (e vê-se agora que não era); segundo, a resposta do PS não só não foi firme como se abriu à discussão numa postura de principio de grande flexibilidade (tudo isto está dito naquele post e nos que se lhe seguiram em 8 e 16 de Agosto e depois em 29 de Outubro do ano passado. Tire deste primeiro ponto as conclusões que quiser.
PONTO 2 – Carlos Brito diz que o PS “Elegeu um novo líder pouco comprometido com o passado”. Acho a benevolência de CB é um achado. Dizer que José Seguro está pouco comprometido só porque se remeteu ao silêncio e porque, em minha opinião, refugiou nesse silêncio para depois poder aparecer de mão lavadas é um tacticismo que não me faz adivinhar nada de bom. Quem cala consente e José Seguro (em minha modesta opinião) consentiu TODAS as politicas seguidas pelo PS
PONTO 3 – Carlos Brito diz a propósito dos votos de rejeição do PEC IV: “Nem reconhecem que a sofreguidão com que embarcaram e colaboraram no derrubamento do desacreditado governo de José Sócrates, sem olharem a consequências, tendo-o feito, para mais, nos termos e nos prazos escolhidos pela direita, acabou por favorecer, pelo menos objectivamente, a chegada desta ao poder.” Este é um argumento que anda muito por aí e que “ignora”:
Primeiro: Que PCP e BE tinham votado contra todos os PECs anteriores não por serem do PS mas porque TINHAM ALTERNATIVAS não só de orientação politica de sentido diferente como de medidas radicalmente diferente e que NUNCA aprovariam tais medidas. Sócrates não foi confrontado com essa surpresa nem tal votação é uma traição aos valores da esquerda
Segundo: O PEC IV, vinha com referências de forte aceitação da direita europeia (Sócrates antes de o discutir em Portugal, discutiu-o com Angela Merkel) o que fez, muito provavelmente, Sócrates pensar que o PSD iria deixar passar mais um, à semelhança do que tinha feito com todos os anteriores. Só que dentro da estratégia labiríntica definida por PPP´há mais de um ano, chegara a altura de tomar o poder
Terceiro: Para quem conhece bem o PCP como Carlos Brito, devia de saber que o PCP não entra em jogos de poder. Toma posições face a políticas e a princípios.
Se os perigos são grandes? São. Eu já os adivinhava grandes quando apontavam PPP de incompetente e imaturo. Mas não é um documento com as análises e posições da RC que resolve o problema."
Desculpe pela extensão e obrigado
Rogério Pereira
5 de Outubro de 2011 23:41
11 comentários:
Obrigado Meu Caro. Como acho indispensável à compreensão do que penso, venho deixar 2 links dos 4 posts que escrevi no ANO PASSADO e que estão referidos neste texto que hoje edita:post de 26 de Julho de 2010: Pactuar com a estratégia de PPP
post de 29 de Outubro de 2010, “Como partir um labirinto"
Em minha opinião a queda do governo PS começou aí, nas SÈRIAS e CLARAS ameaças à constituição que na altura foram desvalorizadas...
Caro Rogério
Reli os seus posts oportunamente publicados. Num deles até comentei (concordando) e recebi outro comentário seu.
O facto de ter tido razão no passado (embora recente) não significa ficar por aí.
Sim há que destruir o “labirinto” se em relação ao passado, já nada podemos alterar, em relação ao futuro, sim. Também reli o escrito de C.Brito e nas suas palavras continuo a rever-me. Sinceramente não percebo a “animosidade” será porque “Um padre quando deixa de o ser, não pode mais fazer homilias?”.
Creio que sabe que grandes militantes comunistas só o foram porque antes já tinham mostrado a sua combatividade e por isso foram recrutados. Ou seja, já praticavam actos políticos. Porque é que quando saem do partido têm que se remeter ao silêncio e não expressar mais as suas ideias?
Um comunista não o é mais ou menos por ter ou não cartão. Um Comunista é-o pelo seu comportamento no dia-a-dia, moral, cívico e político.
Abraço
Ser comunista é tomar Partido
Comunistas independentes?
Pode dar conforto pessoal
mas não tem nada de consequência
a menos que seja para confundir
Defender ideias convergentes
é ser pode ser conversa de aliados
mas não é tomar Partido
Eis a diferença
em nome da minha verdade
O ROgério tocou no ponto
Apenas
pequenas achegas:
- Falar-se de Julho a Outubro do ano passado é falar-se de ontem. Lembro que que o orçamento corrente de 2011, em curso de execução, foi aprovado com a abstenção do PSD. Em agosto DESTE ANO houve um primeiro Orçamento rectificativo para este ano, aprovado no Parlamento no dia 3 de Agosto com os votos do PSD, CDS-PP e PS!
- Eu nunca fiz julgamentos sobre a pessoa de Carlos Brito, limitei-me a comentar alguns (e não todos) pontos do seu documento e tentar demonstrar que não era um contributo credível para resolver o problema da esquerda...
Caro Puma
Sim ser "Comunista é tomar partido". Nada contra. Corresponde ao que penso e disse por outras palavras no comentário anterior.
"Comunistas independentes" "Conforto pessoal" se isso se refere a Carlos Brito só mostra que não teve o mínimo de preocupação em saber de quem fala. Anos e anos por diversas vezes na prisão. Anos e anos de clandestinidade, deve ter sido uma coisa muito confortável.
Sim o Rogério tocou no ponto (em vários)
Caro Rogério
Nada a objectar. Até porque este tema virá muito mais vezes à tona. Pois a solução não existe, tem que ser construida. Ou Há? "Credível"!
Abraços
Caro Folha Seca
não sabe com quem está a comentar
Modeste-se
a menos que me diga que conhece pessoal e politicamente
melhor que eu
o meu amigo e ex-camarada
O amigo Rogerito é muito bom. Muito completo! (sem desfazer...)
Caro Puma
É evidente que não lhe vou responder à letra. Há niveis a que não desço.
Passe bem
Cara Carol
Também já passei pelo tempos das "certezas absolutas".
Tudo o que afirmo é por convicção, mas aprendi a ouvir os outros e muita vez percebi que estava errado.
Um dos males de que a nossa sociedade enferma é precisamente a dificuldade ou mesmo incapacidade para o diálogo. Mas creio que nesta "discussão" ele esteve presente.
Escrevi um dia
que as pedras haveriam de acordar, mas tarda...
Houve diálogo sim, mesmo entre aqueles que leram e não comentaram. Chama-se a isso diálogo de mudos (gente sua comentadora frequente não se fez presente). Outro diálogo, mais azedo, apenas precisa de evoluir para um toque avinagrado.
Caro Rogério
E ainda... penso que mais do que uma vez publiquei o "analfabeto político" de facto quando se trata de deixar uns "salamaleques" há muita gente pronta. Quando se trata de emitir opiniões mesmo que incómodas a questão já é outra e aqui põe-se a questão se se têm ou não. Como a minha preocupação nesta coisa da blogosfera não é o numero de comentários nem o numero de visitas, importo-me mais com a "substância da coisa"
Quanto ao azedo e ao avinagrado há uma grande diferença. Azedo é sinómeno de estragado. Avinagrado é sinómeno de temperado a mais ou a menos, mas simplesmete temperado.
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