quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Contraditório

Há 2 dias publiquei com algumas considerações um texto da Renovação Comunista assinado por Carlos Brito. Embora formalmente, nada tenha a ver com esta organização, revi-me naquele texto e como tal dei-lhe o relevo, que considerei adequado. Sou dos que pensa que não basta constatar. É necessário agir para (que como alguém disse em 1 de Outubro) “evitar o desastre”.

Não sendo muito habitual, fui dando resposta aos comentários entretanto feitos. Um dos meus bloggers de referência Rogério Pereira decidiu aprofundar o tema fazendo um comentário onda expressa a sua opinião duma forma mais aprofundada. Como a tendência é os comentários ficarem perdidos na caixa dos ditos, chamei à primeira página o seu texto, até porque penso que esta discussão vai forçosamente continuar. Claro que neste blogue há direito ao contraditório.


Aqui Vai.
"Não estava muito virado para comentar o texto do documento da “Renovação Comunista”, assinado por Carlos Brito, por o julgar inócuo e inconsequente para a resolução do problema, que de facto é, a divisão da esquerda. O facto de assim pensar, não me impede de constatar que o meu caro a ele se agarrou e faz dele estandarte o que, para mim já passa a ser razão suficiente para rever a posição inicial de pura e simplesmente não lhe ligar. Até porque sendo publicado em vésperas da manifestação de 1 de Outubro e terminando o documento como termina, o tomei (e continuo a tomar) como uma mera afirmação de presença da RC.

Mas então vejamos alguns aspectos do que o documento diz e do que penso.

PONTO 1 -  “Tamanha ambição, (a da direita de Passos Coelho) aliada a alguma inexperiência e a muita incompetência política, não deixa, no entanto, de provocar contradições e rivalidades no seu interior, originando zonas de fragilidade e de prováveis grandes tropeções.”
É um tremendo e perigoso erro de análise, como ponto de partida. Em Julho do ano passado afirmei que não me parecia haver nem inexperiência nem incompetência de PPP ao este comunicar a sua estratégia contra a constituição. Num post que editei em 26 de Julho de 2010 intitulado “Pactuar com a estratégia de Pedro Passos Coelho é entrar num labirinto de onde dificilmente se sairá. Deprecia-la, também não é caminho....:

” Quando se define, como Pedro Passos Coelho fez, uma estratégia labiríntica muitos se apressam a dizer que ela não leva a lado nenhum. Cuidado, PPC tem todo o percurso na mão, conhece os atalhos sem saída conhece os atalhos sem saída e, como foi ele que a desenhou, sabe que a única saída é a que conduz a uma consolidação dos interesses da classe que defende, dos ricos e dos poderosos... Nesse post e nos seguintes alertava sectores de esquerda para duas ideias que na altura defendiam: uma igualzinha à que CB vem agora referir no documento ao qualificar como incompetente e inexperiente, quando a meus olhos o não era (e vê-se agora que não era); segundo, a resposta do PS não só não foi firme como se abriu à discussão numa postura de principio de grande flexibilidade (tudo isto está dito naquele post e nos que se lhe seguiram em 8 e 16 de Agosto e depois em 29 de Outubro do ano passado. Tire deste primeiro ponto as conclusões que quiser.

PONTO 2 – Carlos Brito diz que o PS “Elegeu um novo líder pouco comprometido com o passado”. Acho a benevolência de CB é um achado. Dizer que José Seguro está pouco comprometido só porque se remeteu ao silêncio e porque, em minha opinião, refugiou nesse silêncio para depois poder aparecer de mão lavadas é um tacticismo que não me faz adivinhar nada de bom. Quem cala consente e José Seguro (em minha modesta opinião) consentiu TODAS as politicas seguidas pelo PS

PONTO 3 – Carlos Brito diz a propósito dos votos de rejeição do PEC IV: “Nem reconhecem que a sofreguidão com que embarcaram e colaboraram no derrubamento do desacreditado governo de José Sócrates, sem olharem a consequências, tendo-o feito, para mais, nos termos e nos prazos escolhidos pela direita, acabou por favorecer, pelo menos objectivamente, a chegada desta ao poder.” Este é um argumento que anda muito por aí e que “ignora”:

Primeiro: Que PCP e BE tinham votado contra todos os PECs anteriores não por serem do PS mas porque TINHAM ALTERNATIVAS não só de orientação politica de sentido diferente como de medidas radicalmente diferente e que NUNCA aprovariam tais medidas. Sócrates não foi confrontado com essa surpresa nem tal votação é uma traição aos valores da esquerda

Segundo: O PEC IV, vinha com referências de forte aceitação da direita europeia (Sócrates antes de o discutir em Portugal, discutiu-o com Angela Merkel) o que fez, muito provavelmente, Sócrates pensar que o PSD iria deixar passar mais um, à semelhança do que tinha feito com todos os anteriores. Só que dentro da estratégia labiríntica definida por PPP´há mais de um ano, chegara a altura de tomar o poder

Terceiro: Para quem conhece bem o PCP como Carlos Brito, devia de saber que o PCP não entra em jogos de poder. Toma posições face a políticas e a princípios.

Se os perigos são grandes? São. Eu já os adivinhava grandes quando apontavam PPP de incompetente e imaturo. Mas não é um documento com as análises e posições da RC que resolve o problema."

Desculpe pela extensão e obrigado

Rogério Pereira

5 de Outubro de 2011 23:41

11 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Obrigado Meu Caro. Como acho indispensável à compreensão do que penso, venho deixar 2 links dos 4 posts que escrevi no ANO PASSADO e que estão referidos neste texto que hoje edita:post de 26 de Julho de 2010: Pactuar com a estratégia de PPP
post de 29 de Outubro de 2010, “Como partir um labirinto"

Em minha opinião a queda do governo PS começou aí, nas SÈRIAS e CLARAS ameaças à constituição que na altura foram desvalorizadas...

folha seca disse...

Caro Rogério
Reli os seus posts oportunamente publicados. Num deles até comentei (concordando) e recebi outro comentário seu.
O facto de ter tido razão no passado (embora recente) não significa ficar por aí.
Sim há que destruir o “labirinto” se em relação ao passado, já nada podemos alterar, em relação ao futuro, sim. Também reli o escrito de C.Brito e nas suas palavras continuo a rever-me. Sinceramente não percebo a “animosidade” será porque “Um padre quando deixa de o ser, não pode mais fazer homilias?”.
Creio que sabe que grandes militantes comunistas só o foram porque antes já tinham mostrado a sua combatividade e por isso foram recrutados. Ou seja, já praticavam actos políticos. Porque é que quando saem do partido têm que se remeter ao silêncio e não expressar mais as suas ideias?
Um comunista não o é mais ou menos por ter ou não cartão. Um Comunista é-o pelo seu comportamento no dia-a-dia, moral, cívico e político.
Abraço

O Puma disse...

Ser comunista é tomar Partido

Comunistas independentes?
Pode dar conforto pessoal
mas não tem nada de consequência
a menos que seja para confundir

Defender ideias convergentes
é ser pode ser conversa de aliados
mas não é tomar Partido

Eis a diferença
em nome da minha verdade

O ROgério tocou no ponto

Rogério G.V. Pereira disse...

Apenas
pequenas achegas:
- Falar-se de Julho a Outubro do ano passado é falar-se de ontem. Lembro que que o orçamento corrente de 2011, em curso de execução, foi aprovado com a abstenção do PSD. Em agosto DESTE ANO houve um primeiro Orçamento rectificativo para este ano, aprovado no Parlamento no dia 3 de Agosto com os votos do PSD, CDS-PP e PS!
- Eu nunca fiz julgamentos sobre a pessoa de Carlos Brito, limitei-me a comentar alguns (e não todos) pontos do seu documento e tentar demonstrar que não era um contributo credível para resolver o problema da esquerda...

folha seca disse...

Caro Puma

Sim ser "Comunista é tomar partido". Nada contra. Corresponde ao que penso e disse por outras palavras no comentário anterior.
"Comunistas independentes" "Conforto pessoal" se isso se refere a Carlos Brito só mostra que não teve o mínimo de preocupação em saber de quem fala. Anos e anos por diversas vezes na prisão. Anos e anos de clandestinidade, deve ter sido uma coisa muito confortável.
Sim o Rogério tocou no ponto (em vários)

Caro Rogério
Nada a objectar. Até porque este tema virá muito mais vezes à tona. Pois a solução não existe, tem que ser construida. Ou Há? "Credível"!

Abraços

O Puma disse...

Caro Folha Seca

não sabe com quem está a comentar

Modeste-se

a menos que me diga que conhece pessoal e politicamente
melhor que eu
o meu amigo e ex-camarada

Graça Sampaio disse...

O amigo Rogerito é muito bom. Muito completo! (sem desfazer...)

folha seca disse...

Caro Puma
É evidente que não lhe vou responder à letra. Há niveis a que não desço.
Passe bem

folha seca disse...

Cara Carol
Também já passei pelo tempos das "certezas absolutas".
Tudo o que afirmo é por convicção, mas aprendi a ouvir os outros e muita vez percebi que estava errado.
Um dos males de que a nossa sociedade enferma é precisamente a dificuldade ou mesmo incapacidade para o diálogo. Mas creio que nesta "discussão" ele esteve presente.

Rogério G.V. Pereira disse...

Escrevi um dia
que as pedras haveriam de acordar, mas tarda...

Houve diálogo sim, mesmo entre aqueles que leram e não comentaram. Chama-se a isso diálogo de mudos (gente sua comentadora frequente não se fez presente). Outro diálogo, mais azedo, apenas precisa de evoluir para um toque avinagrado.

folha seca disse...

Caro Rogério
E ainda... penso que mais do que uma vez publiquei o "analfabeto político" de facto quando se trata de deixar uns "salamaleques" há muita gente pronta. Quando se trata de emitir opiniões mesmo que incómodas a questão já é outra e aqui põe-se a questão se se têm ou não. Como a minha preocupação nesta coisa da blogosfera não é o numero de comentários nem o numero de visitas, importo-me mais com a "substância da coisa"
Quanto ao azedo e ao avinagrado há uma grande diferença. Azedo é sinómeno de estragado. Avinagrado é sinómeno de temperado a mais ou a menos, mas simplesmete temperado.