segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Pontes e Pontes

Senhor folha seca

Desculpe o abuso mas queria contar-lhe um estória que se merecer a sua atenção, gostava de  ver publicada.

Andam para aí alguns funcionários públicos a dizer que nós, os trabalhadores do privado não vamos ser tão penalizados como eles neste tal esforço para vencer a crise. Peço desculpa, mas estou farto desta conversa que quanto a mim tem o objectivo de dividir para reinar. Vejamos: hoje é véspera de mais um feriado, ou seja do dia de todos os Santos. Não percebo porque é que há um dos Santos todos e depois há mais uma catrefada de feriados por causa de uns outros Santos. Isto de haver uns Santos que são mais que outros, não está bem. Mas?

Pronto eu até não sou contra, porque quantos mais feriados menos a gente trabalha.

Mas este meu desabafo tem outra razão. Como sei que grande parte dos funcionários públicos hoje não trabalham “fazem ponte” eu que ontem há noite estava com uma forte dor nas costas, decidi também não trabalhar e pedir uns dias de baixa e para não perder tudo teriam que ser pelo menos 15 dias, de que iria receber 65% do ordenado base menos os primeiros 3 dias. Não sei bem mas acho que no sector publico, quem está doente ou de atestado recebe sempre por inteiro, penso eu.

Às 4 da manhã lá estava eu no posto médico da Marinha Grande (fazia um frio de rachar) e já lá estava gente desde as 7 da tarde do dia anterior.

Ora acontece o seguinte, estava lá um papel com a lista de médicos que hoje estão ausentes. Dum total de 18 médicos, 12 não vão estar. Porra, 12 médicos a fazer ponte, acho que até dava para fazer uma nova ponte das Tercenas que está encerrada pelo risco de ruir.

E pronto lá tive que aguentar até que os serviços abrissem para levar uma justificação para o meu patrão, perder um dia de salário (coisa que no sector publico parece também não acontecer) e ir gastar uns dinheiros no Endireita, porque esse como é do privado não faz ponte e está ao serviço.

Pronto. Desculpe, mas a gente tem que desabafar, faz bem aos nervos.

José (pseudónimo) não vá o Diabo tecê-las.
Nota: Claro que perante sí estou devidamente identificado.

PS: Esta estória foi devimente comprovada. Embora 1 dos 12 esteja no serviço de urgências.

domingo, 30 de outubro de 2011

Poema Destinado a Haver Domingo


Poema: Natália Correia
Música: Aníbal Raposo
Intérprete: Helena Oliveira (in "Helena Cant'Autores Açorianos", 2007)

Bastam-me as cinco pontas duma estrela
E a cor dum navio em movimento.
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.

Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio do cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.

Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.

Deixem ao dia a cama dum domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre
E a tarde cor-de-rosa num flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre.

Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o amor por fim tenha recreio.

sábado, 29 de outubro de 2011

Zeca Afonso - Traz outro amigo também.


Há dias em que nos apetece transmitir a um amigo o apreço que por ele temos. Como alguém disse “conhecidos temos muitos, amigos apenas alguns”. Sim um amigo é muita vez confundido com um conhecido a quem interessa chamar amigo por razões circunstanciais.
Tenho a sorte de nunca ter precisado de baralhar estes dois conceitos. Tenho amigos, daqueles cuja amizade até me vai permitindo deles discordar directa ou até publicamente, mas cuja amizade não sofre a mais pequena beliscadura.
Hoje apetecia-me escrever algo sobre um desses amigos, mas um pacto de silêncio obriga-me a ficar por aqui. Sei que lutador como sempre foi, vai enfrentar com a energia que já lhe conheço há várias dezenas de anos, mais este percalço. E daqui a uns tempos vamos-mos juntar e dizer. “No pasarán”.
Força meu querido amigo!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Relembrar Joaquim Carreira

Tenho alguma dificuldade em participar em homenagens póstumas a homens e mulheres que em vida não lhe foi reconhecido o merecido mérito. Mesmo que alguém vá pregando no deserto para que isso se faça.
Para além de outros nos últimos tempos deixou-nos um Marinhense a quem, não foi em vida feito o devido reconhecimento

Este post pretende tratar duma iniciativa que tem o objectivo, como o título indica “Relembrar Joaquim Carreira". A data escolhida coincide com a sua última prisão em 28 de Outubro de 1973 data da última farsa eleitoral do regime fascista.
Na Marinha Grande, depois do MDP-CDE ter apresentado a desistência, centenas de Democratas (cujo numero foi aumentando durante o dia até aos milhares), juntaram-se à boca das urnas, protestando contra a referida farsa eleitoral.

Neste grupo estava gente de todas as idades entre eles, alguns adolescentes. A polícia já tinha ensaiado algumas tentativas para dispersar os manifestantes. Foi precisamente numa dessas investidas que ao opor-se às agressões que estavam a ser feitas a jovens adolescentes, que Joaquim Carreira, dando mais uma vez o corpo às balas se atravessou no caminho da polícia, sendo imediatamente detido. Foi o último preso político a ser julgado no tristemente célebre Tribunal Plenário.

Seriam muitos os testemunhos que poderíamos recolher sobre uma vida inteira ao serviço dos trabalhadores e da causa da liberdade e da Democracia, ao serviço daquele que foi sempre o seu partido, o PCP apesar da sua inconcebível expulsão, por delito de opinião.

Pedimos a um dos seus Camaradas de prisão e de clandestinidade que escrevesse um pequeno testemunho sobre este "verdadeiro herói Nacional" (como lhe chamou Henrique Neto) e "um jovem e heróico vidreiro da Marinha Grande",como lhe chamou José Dias Coelho no seu livro "Histórias da Resistência". Como lembrou Osvaldo Castro, aqui.



Joaquim Carreira
A pura dedicação à luta dos trabalhadores
Testemunho de Carlos Brito

Conheci o Joaquim Carreira na cadeia da PIDE de Caxias, na minha terceira prisão, em 1959.

Nessa altura, as cadeias da PIDE estavam superlotadas pelas centenas de prisões efectuadas no rescaldo da campanha de Humberto Delgado e em consequência da repressão das greves políticas de protesto contra a burla eleitoral que roubou a vitória ao General.

Na própria sala onde nos juntámos, a PIDE tinha concentrado mais de uma dezena de funcionários do PCP, contra tudo o que era habitual por causa do receio das fugas.

Lembro-me que apesar de ali se encontrarem destacados dirigentes comunistas como José Magro e Rogério de Carvalho, a figura do jovem revolucionário louro, chamado Joaquim Carreira, dava nas vistas logo no primeiro contacto.

Percebi que isso acontecia, porque não era homem para ficar calado, mesmo quando os mais velhos sentenciavam, e sobretudo pela veemência com que se pronunciava.

Apesar de haver entre nós uma certa diferença de idade, ele mais velho, éramos os dois dos mais novos da sala, embora já com bastante experiência e responsabilidades partidárias. Criámos com um outro camarada, também dos mais novos, um grupo de animação cultural e humorística que semanalmente arrancava com um serão em que depois todos participavam. Foi assim que além de camaradas nos tornámos amigos e partilhamos confidências. Nas falas dele, o filho Alberto vinha sempre à baila e um dia também veio o nome da mãe, Fernanda Tomaz, sua companheira e por quem estava visivelmente apaixonado. Foi então a minha vez de lhe dizer que a Fernanda tinha um imenso prestígio e deixou grandes saudades entre os estudantes de esquerda de Lisboa, quando passou à clandestinidade, muito nova, no início dos anos cinquenta.

O Joaquim Carreira também passou à clandestinidade muito novo, pouco mais do que adolescente, e fez um percurso especialmente duro nos quadros do PCP, passando pelas tipografias, incluindo como tipógrafo, e também na qualidade de funcionário de organização em zonas bastante tocadas pela PIDE. Mas ele falava com uma certa vaidade desta dureza que fazia parte daquilo que entendia ser a condição de revolucionário. Tinha esta condição entranhada no espírito, desde criança dizia, como verdadeiro filho do proletariado da Marinha Grande, pois assim se considerava e assim falava das lutas dos operários do vidro, comovendo-se até às lágrimas.

Quando lhe nasceu o filho pôs-lhe, é claro, o nome de Alberto, que era o pseudónimo partidário de José Gregório, operário marinhense dos mais ilustres, participante do 18 de Janeiro, e que foi um dos principais dirigentes do PCP desde da reorganização do início dos anos quarenta até quase aos meados dos anos cinquenta, altura em que adoeceu gravemente.

Joaquim Carreira foi preso em 1958, num momento em que a PIDE raivosa com o crescimento da oposição ao regime estava a aplicar a tortura do sono até ao limite da sobrevivência. Carreira foi submetido a este suplício extremo durante vários dias e noites e a PIDE tudo fez para o vergar. Não conhecia a têmpera do revolucionário que tinha pela frente, que tudo enfrentou com a maior coragem, recusando-se a fazer qualquer declaração.

Em princípios de 1960, fizemos parte, ambos, do grupo de funcionários do Partido que a PIDE enviou para Peniche, mesmo sem estarmos julgados, o que era anormal, para ocuparmos as celas deixadas vazias pela fuga de Álvaro Cunhal e dos outros dirigentes do PCP..

Fomos submetidos durante anos a um regime de perseguição vingativa que se traduzia na frase que nos foi transmitida pelo chefe dos Guardas logo à chegada: «é proibido tudo aquilo que não for expressamente autorizado.»

Era proibida qualquer espécie de solidariedade entre os presos, sob o pretexto da liquidação da «comuna»; era proibida qualquer contacto com as camas desde os apitos da alvorada até aos apitos do recolher, a pretexto de os lençóis terem sido usados pelos fugitivos para fazer cordas; em regime celular de isolamento, éramos sujeitos a «convívios» em que era proibido falar; era proibida e entrada de livros que não fossem manuais escolares do ensino oficial, salvo autorização especial do director.

A propósito destas autorizações, o Joaquim Carreira foi o protagonista de um episódio que refiro num dos meus livros. Fez um requerimento ao director para poder receber um livro da história da Grécia, que tratava do período do Helenismo. O director não autorizou. O Carreira reclamou e pediu-lhe uma entrevista. O director acedeu para lhe dar uma lição, dizendo:

«Eu aprecio que os senhores se instruam para a futura reinserção na sociedade quando terminarem o vosso castigo. Mas não percebo que interesse tem para um operário um livro sobre o helenismo. Lá diz o evangelho: “não suba o sapateiro acima do chinelo.»

O Carreira respondeu-lhe: «Eu não sei se senhor director lê jornais, mas se lê há-de reparar que no tempo das revoluções socialistas, que é o nosso, os operários tem um papel no mundo que nada tem a ver com o sapateiro do evangelho.» O director remoeu e passados uns dias autorizou o livro, talvez
para mostrar que lia jornais.

Mas nem sempre as coisas acabavam assim. De espírito naturalmente rebelde e independente, chocava-se permanentemente com a teia de proibições que nos cercava e lá vinham os gritos e as admoestações dos guardas e os castigos do chefe que lhe infernizavam a vida. Nunca, porém, virava a cara aos perigos.

Como se sabe, em qualquer cadeia e fosse qual fosse o regime, os comunistas organizavam-se clandestinamente. Em Peniche funcionava uma organização prisional, com a sua direcção e organismos em todos os sectores prisionais, que os carcereiros queriam manter separados em compartimentos estanques. Uma das principais tarefas era a manutenção das ligações desta rede organizada, o que implicava imaginação e riscos. Pois o destemido Carreira queria sempre chamar a si esta tarefa.

Enquanto estivemos juntos em Peniche constituímos os dois, com um terceiro camarada que foi alterando, o organismo partidário do nosso sector. Este além de dirigir a luta prisional no sector, em ligação com a direcção, tinha que pronunciar-se sobre quadros, apreciar

informações sobre o porte na polícia, intervir na solução de problemas humanos dos camaradas sob o nosso controlo. Conheci por isso muito bem as concepções do Carreira. O que mais me surpreendia é que ele conciliava aquela maneira veemente e frontal de intervir, às vezes até um pouco rude, com uma enorme compreensão pelas dificuldades alheias, ausência de sectarismo e grande independência de opinião, o que obrigava a discussões demoradas e a que as decisões nunca fossem burocráticas.

Ele saiu da cadeia uns largos meses, antes de eu próprio ser posto em liberdade. Quando sai, mal contactei os camaradas em Lisboa, foi-me transmitido o convite para um piquenique por ele organizado na Marinha Grande. Desrespeitando as normas da liberdade condicional em que me encontrava, não hesitei e lá fui. Realizou-se um dia de excelente e encorajadora confraternização de ex-presos políticos e outros camaradas. O melhor de tudo foi ver que o Carreira reorganizava a sua vida na companhia da Rosinda.

Passado pouco tempo depois de libertado, eu passei de novo à clandestinidade e só nos voltámos a ver após o 25 de Abril. Na última vez que estive na Marinha Grande referiu-me com amargura as suas crescentes dificuldades com o Partido. Não me admirei, eu próprio também as tinha, mas pensei que, no caso do Carreira, o Partido levaria em conta a sua vida, que foi de pura dedicação à luta dos trabalhadores.

Como conclusão deste testemunho, é preciso, no entanto, dizer mais:

Revolucionário desde menino, como ele próprio se considerava, Joaquim Carreira foi um comunista a vários títulos exemplar.

Aliava a grande firmeza de convicções à larga abertura para as opiniões alheias; tinha inabaláveis certezas quanto ao futuro comunista da sociedade humana, mas não resistia a interrogar-se sobre as grandes etapas da marcha para esse futuro; entregou desde muito cedo a sua vida ao PCP, mas por isso mesmo tinha em relação a actividades deste uma permanente e salutar apreciação crítica e autocrítica; conservou até ao fim da vida uma lúcida independência de opinião, que é um valor revolucionário dos mais importantes.

Carlos Brito

sábado, 22 de outubro de 2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O Direito de Escolhar a VIa...

Uma das questões mais frequentes que me é posta, relativa à situação política actual é: E alternativas?

Esta treta de ir mandando uns palpites aqui e ali e até passá-lo a letra de forma de facto é muito fácil. (havia na minha terra um homem que era conhecido pelo Lopes da oposição, mas vou guardar a sua estória para outra ocasião).

Passar ao computador alguns dos pensamentos que dia a dia me atormentam, descrever os receios que o futuro nos apresenta, usar o post para explicar tudo bem explicadinho, até  não é assim muito difícil. A questão é, se alguém nos vai ler? Embora a escrita individual também é uma forma de exercício salutar, mesmo que seja só para guardar.

Ora bem. Mantendo a velha ideia de que “esta Democracia, com todos os defeitos, ainda é o melhor de todos os sistemas inventados até hoje” sou dos que pensa que é nela, que  terão que se encontrar  soluções. Há-as ou não? Penso que sim!

Chamar-me-ão uma porrada de “nomes” se me atrever a dizer que esta maioria não presta e não vai resolver nenhum dos problemas existentes (antes, agravá-los coisa que já anda na boca de toda a gente). O mesmo aconteceria se clamasse por novas eleições. Não, não vou por aí. Não caindo na ideia, exageradamente enraizada na nossa sociedade de que os políticos são todos iguais e como tal não prestam. Admito que as estruturas partidárias genericamente falando estão demasiado anquilosadas e as urgentes mudanças de comportamento e de abertura à sociedade (no mínimos aos seus militantes) não parecem estar a acontecer.

Estive, depois de largos anos sem o fazer, na manifestação de 15 de Outubro. Uma manifestação que alegadamente seria a repetição duma outra realizada algures em Março do ano passado.

Lá encontrei, gente de todas as tendências partidárias. Creio que não vale a pena enumerar. Não, não foi uma manifestação de gente que exige bons e bem remunerados empregos. Vi gente de toda a maneira e feitio. Mas vi sobretudo gente que queria que o rumo do nosso País não fosse aquele por onde nos estão a levar.

Pronto, para post já vai longo. Voltarei ao assunto, até porque estamos em tempo de pensar em reformas, daquelas que são mesmo necessárias, diría  imprescindíveis.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os gordos e os magros

Por Ricardo Alves, (Jornal i publicado em 19 Out 2011)

Afinal os gordos eram os pensionistas. Aqueles velhotes sentados no jardim, a fazerem tempo para ir aos netos, são eles as tais “gorduras do Estado” que, na frase-bandeira de Passos Coelho, urge “cortar”. Pagarão mais em medicamentos com uma reforma menor.

E gordos são também os funcionários públicos, por manterem uma invejável estabilidade laboral e salarial e porque seria fútil taxar mais o sector privado, onde não faltam formas de reduzir salários, subempregar, reempregar por menos ou despedir.

Obesas são ainda as escolas e anafados são os cientistas, bolinhas colesteróticas que os iludidos acham indispensáveis ao progresso de longo prazo. Boa sorte a quem emigrar.

Os magros, esses, devem ser os banqueiros e a finança, apenas beliscados neste Orçamento e que todos os anos vêem os lucros subir. Esbelto é Jardim, que talvez (nem isso é certo) leve uma palmadita nos dedos com a suspensão de transferências até nos distrairmos dele.

Magríssima, quase esquelética, será a Igreja Católica, maior proprietária imobiliária de Portugal e que continua isenta de IMI e IMT, recebe de volta o IVA e ainda subsídios autárquicos para construir templos essenciais a uma sociedade moderna e tecnológica. Tísicas são as polícias e os serviços secretos, para mais em ano de “tumultos” (outra frase emblemática), isoladas no aumento de despesa.

Dieta sim, mas só para alguns.

"Caldeirada (Poluição)" Helena Sarmento

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Sonhos, Insónias e Pesadelos...

Vou deixar de ouvir alguns governantes a desfiar medidas e mais medidas. Eu que até tinha a mania que dormia bem, estou a começar a ter insónias e pesadelos. O chato é que já não é só durante a noite. Esta noite sonhei com o Frankenstein, eu que até nunca fui grande apreciador de filmes de terror.

Mas pensando bem e fazendo uma pequena pesquisa a coisa até tem alguma razão de ser.

Na Verdade o filme de terror relata a história de Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que constrói um monstro no seu laboratório. A nossa mente é terrível. Então fui comparar o Orçamento de Estado para 2012, com um monstro criado em laboratório? Tenho que começar a tomar qualquer coisa, senão ainda me “passo”.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Dia Não!

Dia não
José Saramago

De paisagens mentirosas
de luar e alvoradas
de perfumes e de rosas
de vertigens disfarçadas.

Que o poema se desnude
de tais roupas emprestadas
seja seco, seja rude
como pedras calcinadas

Que não fale em coração
nem de coisas delicadas
que diga não quando não
que não finja mascaradas

De vergonha se recolha
se as faces tiver molhadas
para seus gritos escolha
as orelhas mais tapadas

E quando falar de mim
em palavras amargadas
que o poema seja assim
portas e ruas fechadas

Ah! que saudades do sim
nestas quadras desoladas.

domingo, 16 de outubro de 2011

Eu Vi Este Povo A Lutar


Muito haveria a dizer sobre a manifestação de ontem. Parece-me que quem acompanha a imprensa falada e escrita já viu tudo o que lá se passou e até mesmo o que não se passou. No que me diz respeito, acho que valeu a pena deixar as minhas “tamanquinhas” em casa e dizer presente.
Senti que Abril esteve lá e que não vai ser fácil matar o doente com a receita cavalar que lhe estão a querer aplicar. Que se cuidem aqueles que pensam que o “pessoal” vai ficar quieto. Mas que tenham atenção aqueles que se julgam “donos” do direito ao protesto e à indignação.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Tomar Partido!

Quando o ano passado foi convocada uma manifestação para o dia 12 Março por um movimento que surgiu no facebbok, cujo nome foi inspirado por uma canção dum grupo de música popular, não fiquei muito entusiasmado. Alguma concentração na ideia de que havia uma “geração à rasca” desvalorizando outras gerações cuja vida foi sempre uma enrascada e o continuava a ser, levou-me até a omitir opiniões pouco “simpáticas” com o movimento.

Hoje não tenho qualquer dúvida. A vida de grande parte dos Portugueses independentemente da geração a que pertence, degradou-se. As medidas que diariamente se tomam e as que insidiosamente se vão conhecendo, vão tornar a vida da maioria do nosso Povo insuportável. É tempo de tomar partido e dizer alto e bom som: Basta!

Que as várias gerações afectadas já e as que o vão ser no futuro. Que os partidos políticos que se têm manifestado contra as medidas que tendem a levar o País à “desgraça” que os eleitores da coligação de direita no poder que foram enganados, pois não foi isto que lhe prometeram, que o principal partido da oposição se deixe de tibiezas e cumpra o seu papel, que as centrais sindicais independentemente da sua tendência, percebam que o seu verdadeiro papel e razão de existência, é a defesa dos trabalhadores.

Que ninguém fique indiferente. Mesmo que não possam estar na manifestação, há sempre uma forma de lhe manifestar apoio.

Sábado 15 de Outubro a Democracia sai à Rua!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Adriano Correia de Oliveira - "E Alegre se Fez Triste"


Do álbum "Gente de Aqui e de Agora" (1971).
Poema de Manuel Alegre.
Música de José Niza; orquestração de José Calvário.


E ALEGRE SE FEZ TRISTE

Aquela clara madrugada que
viu lágrimas correrem no teu rosto
e alegre se fez triste como
chuva que viesse em pleno Agosto.

Ela só viu meus dedos nos teus dedos
meu nome no teu nome. E demorados
viu nossos olhos juntos nos segredos
que em silêncio dissemos separados.

A clara madrugada em que parti.
Só ela viu teu rosto olhando a estrada
por onde um automóvel se afastava.

E viu que a pátria estava toda em ti.
E ouviu dizer adeus: essa palavra
que fez tão triste a clara madrugada.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Comunicado da Associação José Afonso

Postado por AJA Associação José Afonso, destaque Terça-feira, Outubro 11h, 2011

A situação que se vive hoje em Portugal e, um pouco por todo o mundo, é um retrocesso civilizacional. A nossa vida quotidiana está a ser destruída com o argumento de crise financeira. A especulação e a ganância estão a levar-nos a uma situação insustentável para os trabalhadores e para o povo em geral. A cultura é considerada um acessório, sem valor, a precariedade é o futuro para os jovens, os impostos sobre os magros salários sobem em catadupa, as privatizações dos bens públicos – como por exemplo a água – transferem o que é de todos, para a posse de alguns. Assim, obrigam-nos mais uma vez a vir para a rua gritar! Já, José Afonso nos dizia:

O que é preciso é criar desassossego. Quando começamos a criar álibis para justificar o nosso conformismo, então está tudo lixado! (…) Acho que, acima de tudo, é preciso agitar, não ficar parado, ter coragem, quer se trate de música ou de política. E nós, neste país, somos tão pouco corajosos que, qualquer dia, estamos reduzidos à condição de “homenzinhos” e “mulherezinhas”. Temos é que ser gente, pá!

Os órgãos sociais da AJA, reunidos a dia 10 de Outubro, decidem, por isso, apoiar e apelar aos associados e amigos para participarem nas manifestações contra a degradação das condições de vida no país, e no mundo.

A 15 de Outubro 2011 – A Democracia sai à rua!

Setúbal, 10 Outubro 2011

Francisco Fanhais

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Caciques e Caciques...

Apesar de tudo o que já se disse em termos de análise política relativo às eleições de ontem para a Assembleia Regional da Madeira. Apetece-me acrescentar algo que me preocupa quanto aos conceitos de honestidade de grande parte do eleitorado.

Há um ditado que diz: “viver não custa, custa é saber viver”. Os ditados servem para muita coisa e muita situação. Penso que este ditado é muito utilizado para justificar o Chico-espertismo Nacional (incluindo o insular).

De facto a nossa Democracia está doente. Quando um povo elege gente, que se a justiça funcionasse estaria atrás das grades, no mínimo preventivamente até se apurarem os crimes económico- financeiros em que estão envolvidos e os não pudessem continuar a fazer e certamente destruir provas incriminatórias.

É evidente que não é um problema insular, quando no Continente se elegem autarcas a contas com a justiça, há qualquer coisa que não bate certo. Quando 36 Anos depois de Abril o caciquismo continua a ter a força que se vê. E não se trata das aldeias recônditas do Portugal profundo onde a televisão ainda não chegou, mas em zonas onde não faltam todos os meios de informação. Ou faltam?

Podíamos chutar para o défice Democrático, o emprego que o governo regional e apêndices proporcionam. Podíamos responsabilizar o "trabalho" feito por agentes dos serviços públicos do Governo Regional. Podíamos convencer-nos que aquelas boleias todas tiveram o seu efeito.

Mas em Oeiras, Gondomar e porque não Felgueiras?

Não bate certo. Não haverá por aqui uma aceitação do eleitorado que se rende às "habilidades" e até acha que o mundo é dos “espertos”?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Contraditório

Há 2 dias publiquei com algumas considerações um texto da Renovação Comunista assinado por Carlos Brito. Embora formalmente, nada tenha a ver com esta organização, revi-me naquele texto e como tal dei-lhe o relevo, que considerei adequado. Sou dos que pensa que não basta constatar. É necessário agir para (que como alguém disse em 1 de Outubro) “evitar o desastre”.

Não sendo muito habitual, fui dando resposta aos comentários entretanto feitos. Um dos meus bloggers de referência Rogério Pereira decidiu aprofundar o tema fazendo um comentário onda expressa a sua opinião duma forma mais aprofundada. Como a tendência é os comentários ficarem perdidos na caixa dos ditos, chamei à primeira página o seu texto, até porque penso que esta discussão vai forçosamente continuar. Claro que neste blogue há direito ao contraditório.


Aqui Vai.
"Não estava muito virado para comentar o texto do documento da “Renovação Comunista”, assinado por Carlos Brito, por o julgar inócuo e inconsequente para a resolução do problema, que de facto é, a divisão da esquerda. O facto de assim pensar, não me impede de constatar que o meu caro a ele se agarrou e faz dele estandarte o que, para mim já passa a ser razão suficiente para rever a posição inicial de pura e simplesmente não lhe ligar. Até porque sendo publicado em vésperas da manifestação de 1 de Outubro e terminando o documento como termina, o tomei (e continuo a tomar) como uma mera afirmação de presença da RC.

Mas então vejamos alguns aspectos do que o documento diz e do que penso.

PONTO 1 -  “Tamanha ambição, (a da direita de Passos Coelho) aliada a alguma inexperiência e a muita incompetência política, não deixa, no entanto, de provocar contradições e rivalidades no seu interior, originando zonas de fragilidade e de prováveis grandes tropeções.”
É um tremendo e perigoso erro de análise, como ponto de partida. Em Julho do ano passado afirmei que não me parecia haver nem inexperiência nem incompetência de PPP ao este comunicar a sua estratégia contra a constituição. Num post que editei em 26 de Julho de 2010 intitulado “Pactuar com a estratégia de Pedro Passos Coelho é entrar num labirinto de onde dificilmente se sairá. Deprecia-la, também não é caminho....:

” Quando se define, como Pedro Passos Coelho fez, uma estratégia labiríntica muitos se apressam a dizer que ela não leva a lado nenhum. Cuidado, PPC tem todo o percurso na mão, conhece os atalhos sem saída conhece os atalhos sem saída e, como foi ele que a desenhou, sabe que a única saída é a que conduz a uma consolidação dos interesses da classe que defende, dos ricos e dos poderosos... Nesse post e nos seguintes alertava sectores de esquerda para duas ideias que na altura defendiam: uma igualzinha à que CB vem agora referir no documento ao qualificar como incompetente e inexperiente, quando a meus olhos o não era (e vê-se agora que não era); segundo, a resposta do PS não só não foi firme como se abriu à discussão numa postura de principio de grande flexibilidade (tudo isto está dito naquele post e nos que se lhe seguiram em 8 e 16 de Agosto e depois em 29 de Outubro do ano passado. Tire deste primeiro ponto as conclusões que quiser.

PONTO 2 – Carlos Brito diz que o PS “Elegeu um novo líder pouco comprometido com o passado”. Acho a benevolência de CB é um achado. Dizer que José Seguro está pouco comprometido só porque se remeteu ao silêncio e porque, em minha opinião, refugiou nesse silêncio para depois poder aparecer de mão lavadas é um tacticismo que não me faz adivinhar nada de bom. Quem cala consente e José Seguro (em minha modesta opinião) consentiu TODAS as politicas seguidas pelo PS

PONTO 3 – Carlos Brito diz a propósito dos votos de rejeição do PEC IV: “Nem reconhecem que a sofreguidão com que embarcaram e colaboraram no derrubamento do desacreditado governo de José Sócrates, sem olharem a consequências, tendo-o feito, para mais, nos termos e nos prazos escolhidos pela direita, acabou por favorecer, pelo menos objectivamente, a chegada desta ao poder.” Este é um argumento que anda muito por aí e que “ignora”:

Primeiro: Que PCP e BE tinham votado contra todos os PECs anteriores não por serem do PS mas porque TINHAM ALTERNATIVAS não só de orientação politica de sentido diferente como de medidas radicalmente diferente e que NUNCA aprovariam tais medidas. Sócrates não foi confrontado com essa surpresa nem tal votação é uma traição aos valores da esquerda

Segundo: O PEC IV, vinha com referências de forte aceitação da direita europeia (Sócrates antes de o discutir em Portugal, discutiu-o com Angela Merkel) o que fez, muito provavelmente, Sócrates pensar que o PSD iria deixar passar mais um, à semelhança do que tinha feito com todos os anteriores. Só que dentro da estratégia labiríntica definida por PPP´há mais de um ano, chegara a altura de tomar o poder

Terceiro: Para quem conhece bem o PCP como Carlos Brito, devia de saber que o PCP não entra em jogos de poder. Toma posições face a políticas e a princípios.

Se os perigos são grandes? São. Eu já os adivinhava grandes quando apontavam PPP de incompetente e imaturo. Mas não é um documento com as análises e posições da RC que resolve o problema."

Desculpe pela extensão e obrigado

Rogério Pereira

5 de Outubro de 2011 23:41

terça-feira, 4 de outubro de 2011

"O Imperativo da Convergência à Esquerda"

Desde Sábado que tento alinhavar algumas palavras sobre o que penso relativamente ao nosso futuro imediato. Falta de capacidade para passar ao “papel” o que penso, falta de disposição, falta de tempo, na verdade depois de alguns rascunhos não saiu nada de jeito. Claro que não ia desistir. No entanto hoje ainda antes de iniciar o meu dia de trabalho tinha no meu mail um texto enviado através duma newsletter da Renovação Comunista. Esse Texto é escrito por Carlos Brito ex-militante Comunista com décadas de vida dedicadas à luta antifascista o que o levou a largos anos de clandestinidade e outros tantos às masmorras fascistas, suspenso entretanto da actividade partidária, como medida disciplinar aplicada pelo seu Partido por delito de opinião.

Porque me identifico palavra a palavra, com o que escreve, trago para aqui o seu texto e pus em destaque o acesso ao mesmo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Desespero...

Acabo de ler no blogue do João Quitério uma estória, que na diagonal já tinha lido em qualquer lado. Não me chamaria muito a atenção não fosse o facto do autor do post a ter tratado da forma como fez.
Na verdade “estamos” a ficar insensíveis à miséria alheia. Quantos suicídios há diariamente e não procuramos saber o porquê? Ficando muita vez indiferentes.

No caso concreto tratava-se de dois irmãos que as vicissitudes da vida atiraram para a indigência e que desesperados sem apoio de ninguém cometeram um acto “tresloucado”.
Mas os jornais vão-nos dando notícias de outro tipo de pessoas que cometem suicídio. Não, não são só indigentes. Não, não é só por questões financeiras ou até amorosas.

Dizem-nos também os jornais que o consumo de medicamentos antidepressivos têm tido um brutal aumento no seu consumo. Dizem-nos também que o número de consultas de psiquiatria e psicologia clinica aumentou, também brutalmente.
Esta sociedade está a ficar doente. Acreditar no futuro está a ser um exercício difícil.

Quantos mais “Sopapos” como escreveu o Carlos Barbosa de Oliveira, temos que levar?