sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Coisas da vida real (2)

O bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, afirmou hoje que os tribunais portugueses estão transformados num "paraíso para caloteiros e num inferno para os credores" e que isso é uma das principais causas para o afastamento dos cidadãos da sua Justiça.
No dia em que o ministro da Justiça anunciou para março reformas na ação executiva - relativa à cobrança de dívidas - e a considerou um dos principais problemas do setor, Marinho Pinto afirmou que este tipo de processos, juntamente com os processos de inventário, relativos a partilhas de heranças, são hoje "os dois principais aspetos da desjudicialização", que criticou.

"A ação executiva é uma vergonha, é o aspeto mais traumático do processo civil. Só há duas maneiras de alguém cobrar uma dívida a um devedor que não paga voluntariamente: uma é deitar-lhe as mãos ao pescoço, a outra é levá-lo a tribunal. Infelizmente, em Portugal cada vez é mais fácil e mais barata a primeira medida", ilustrou Marinho Pinto.

António Marinho Pinto criticou a atribuição de competências na ação executiva a pessoas que não são formadas em Direito, como os notários ou os solicitadores de execução, com o que se pretende "tirar trabalho aos tribunais e afastar os cidadãos".

"Se se vai a tribunal, gasta-se o que se tem e o que não se tem, passa-se lá anos e muitas vezes perde-se mais do que aquilo que se teria a receber", frisou o bastonário, que indicou que a sociedade assiste "perplexa e sem saber como reagir".

Quanto à classe política, comporta-se de forma "cobarde, sem ser capaz de tomar medidas para alterar este estado de coisas".

Outro aspeto que afasta as pessoas dos tribunais tem a ver com "as custas judiciais exorbitantes", assim mantidas para "deliberadamente afastar os cidadãos e aliviar os tribunais".

"Não é possível haver boa Justiça num país que a torna inacessível a grande parte dos cidadãos pelo seu elevado custo", defendeu o bastonário.

Lusa

6 comentários:

Anónimo disse...

Ele não se cansa de dizer verdades, de pôr o dedo na ferida, mas as pessoas não lhe dão importância. É o habitual, quando alguém independente e conhecedor da realidade tenta combater o sistema.

Fê blue bird disse...

Um homem que sabe o que diz e não tem medo de o dizer.
Admiro-o e admiro-me de ele se manter à tanto tempo como bastonário.

beijinhos e bom fim de semana

Rogério G.V. Pereira disse...

Só tem um pequeno erro, quando diz:"Quanto à classe política, comporta-se de forma "cobarde, sem ser capaz de tomar medidas para alterar este estado de coisas".

O que estaria certo seria evidenciar a capacidade da classe politica (que faz maiorias) para manter este estado de coisas

Pedro Coimbra disse...

Chama-se a isso justiça selectiva.
Logo à partida.

Isa GT disse...

Devia-se mudar o nome para Ministério da Injustiça.
Isto de só alguns, terem dinheiro para ter um advogado ferrari quando a grande maioria só pode ter um advogado pedonal... mostra logo o tipo de justiça que se pode esperar... nenhuma.
Às vezes ponho-me a pensar... afinal para que servem os impostos? Há por aí uma cabecinhas inteligentes que acham que tudo deve ser pago... e até dar lucro e depois... acabam com os impostos? ;)

Bjos

Anónimo disse...

Sempre admirei este homem... especialmente a sua coragem.