quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Não Morrer do Mal, mas sim da Cura

Hoje tirei a tarde para fazer uns exames que o meu médico me recomendou. Nada de especial apenas rotina para prevenir que haja mais complicações do que aquelas que já me afectam e como os 60 se aproximam rapidamente, nada como prevenir. Na verdade tenho o privilégio de ser diabético (controlado) o que me torna isento de taxas moderadoras, até não sei quando.

Encontrei um amigo e enquanto ambos esperávamos pelo atendimento (que nunca é rápido) lá me foi contando as suas desgraças. Ao pé dele senti-me um privilegiado dado o rol que me foi desfiando sobre as suas, mais que muitas mazelas.

Lá me foi dizendo que até há cerca de um ano atrás se sentia impecável e como tal nada de perder tempo com médicos. Até que um dia numa consulta de rotina a que foi obrigado por razões profissionais lá descobriram que havia algumas avarias a precisar de reparação. A partir daí foi um ver se te avias, em consultas, primeiro o médico de família que lhe receitou uma carrada de exames a tudo e mais alguma coisa até a órgãos que não sabia sequer que existiam. Depois dos exames o mesmo médico receitou-lhe uma panóplia de medicamentos e um não sei quanto número de credencias para exames mais complexos e consultas de especialidade.

Cada especialista dizia uma coisa. Retirava um medicamento e receitava outro e assim sucessivamente, ao ponto da gaveta que tinha para isso não chegar. Uns para tomar e outros para não tomar e as finanças começaram a fazer-se sentir. Como estava com baixa o subsídio de doença já não chegava para as despesas. Os cartões de crédito esgotaram os plafonds. Já estava a ficar seriamente preocupado com o meu amigo e sem saber bem o que lhe dizer, quando fui chamado para o exame. Tento despedir-me à pressa quando ele me agarra por um braço e dispara: Mas o pior é que entrei numa depressão profunda que até perdi a vontade de viver e já não há muito que possa fazer. Aí fiquei atarantado e só consegui em jeito de despedida rematar-lhe: Olha pá! Estás como o País. Se não morreres do mal, morres da cura!
E lá fiquei com o resto do dia estragado, com aquela sensação de impotência parecida com aquilo que sinto ao “ver, ouvir e ler” as desgraças que grassam por este País.

11 comentários:

Agulheta disse...

Meu amigo.Para lhe responder com muita sinceridade sobre este tema,chega a meter dó o sofrimento de tanta gente.O governo(des)governo,nos tem tirado tudo dia para dia.Aqui em casa fui Bombeiro Voluntário no activo durante 27 anos,hoje estou na reserva para pena minha,o marido foi dador de sangue com medalhas de honra nem está em causa as mesmas,mas sim os direitos que nos roubaram de tudo que se faz pela sociedade.Sabe a minha pena era um tipo do Governo precisar e fazer um "toma"assim eles aprendiam a respeitar os outros.
Nem me alongo mais,abraço

Rogério G.V. Pereira disse...

Segundo o poder instituído
a contrapartida do deprimido
é ... ter a troika feliz

Fê blue bird disse...

Meu amigo:
Há dois dias que ando em consultas, ontem com os meus pais estive quatro horas no Centro de Saúde.
Hoje para mim, estive duas horas, para estar no consultório 3 minutos.
Claro que aproveitamos para falar com as pessoas que nos rodeiam e saímos de lá completamente de rastos.
A depressão meu amigo é a doença para a qual todos os portugueses caminham.

beijinhos e as melhoras

Francisco Clamote disse...

Quando a ficção se torna realidade. É isso, não é, Rodrigo? Abraço.

Unknown disse...

Se escrevêssemos as desgraças que vivemos e as que conhecemos passaríamos o tempo todo a escrever e nunca completaríamos nada.

Existem tantos casos dramáticos e cada dia estão mais perto de nós e dos nossos.

O teu amigo já andava deprimido mas com esse abanão que lhe deste certamente não melhorou...

Anónimo disse...

Se não morreres do mal, morres da cura!

quanta verdade nesta frase!

abraço

Janita disse...

Rodrigo.
Também tenho o "privilégio" de ser diabética (e hipertensa) controlada. Felizmente, são as únicas maleitas de que sofro. Até acertar com a medicação para estabelizar a tensão arterial, foi o cabo dos trabalhos.
Não me preocupo excessivamente com isso, senão acho que já tinha entrado em depressão.
Os nossos males são tantos e de tão variada ordem, que senão aligeirarmos as preocupações e as "doses da medicação" vamos morrer mais depressa da cura do que da doença.
Desejo que o resultado dos exames que efectuou tenham sido tranquilizadores.

Um beijo.

Janita

Anónimo disse...

O problema é que quando os médicos nos "pegam", nunca mais nos largam.
Parece-me que é o que vai acontecer connosco em relação à troika...
Abraço

Pedro Coimbra disse...

O comentário bem humorado do Carlos diz tudo.
Mas, quando uma pessoa chega a esses pontos (perder a vontade de viver) arrepia!!
Aquele abraço e bfds, Rodrigo

BlueShell disse...

E que fazer? Como reagiria cada um de nós perante essa situação? O que se diz a uma pessoas doente e que ainda por cima está deprimida? _" olha, não tepreocupes, vai correr tudo bem, vais ver" - quando , nem nós acreditamos no que estamos a dizer? Ao menos...foi uma resposta "airosa"...
É que p País está assim...nesse descair...e não é pela some dos anos...é pelos gajos que estão à frente dele....
A nossa política aconómica é tão boa ou tão má que, a citroen , cá em Mangualde, vai fechar o 3º turno: famílias inteiras ficarão sem meio de subsistência...
triste... muto triste....

Olha quero agradecer teu carinho e teu apoio... tua amizade: obrigada.

BS

Teófilo Silva disse...

Quando a ficção se torna realidade...
...ou quando os médicos nos pegam!

A brincar o Raul Solnado contou-nos uma história de "FICÇÃO" que todos nós ignorámos com algumas risadas.
Ida ao Médico.

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