quinta-feira, 7 de março de 2013

O MEU AMIGO MATOU-SE


 

O MEU AMIGO MATOU-SE


É um dos motivos porque vou à manifestação do dia 2 de Março.
Vou também em nome do meu amigo. No dia 18 de Fevereiro o meu amigo J. C. deu um tiro na cabeça. Já não vai a esta manifestação.
Era um indigente ou um faminto? Não. Era um exemplo da chamada classe média. Gostava da vida. De comer, de dançar, de ir à praia. Ele e a mulher comportavam-se como dois namorados, depois de todos estes anos. Gostava dos filhos, a quem era muito chegado, gostava da neta. Gostava do trabalho. Mas, a situação a que nos levaram criou um labirinto sem saída. De facto, sem saída para uma grande parte da população. Deixemo-nos de flores, de «há soluções para tudo», de «é preciso ter esperança» ou de «há-de correr bem».
Há certas situações que não têm solução à vista. Tinha os pais em casa com oitenta e tal anos e tinham chegado ao ponto de não conseguirem tratar de si próprios. Solução? Um «lar» custa 1300 euros para cada um. Uma empregada permanente anda por aí.
Tinha empregados a quem tinha que pagar salários todos os meses. Tinha empréstimos ao banco, crédito a cumprir, letras. Tinha clientes que não pagavam, porque por sua vez não lhes pagavam a eles.
Os filhos trabalhavam, mas havia um apoio indispensável, por causa da precariedade e por causa de situações de doença.
O senhorio acabava de, em concordância com a nova lei das rendas, passar-lhe a renda para o dobro.
Tinha solução para esta espiral que todos os dias se agravava? Não tinha.
Declarava insolvência, renunciava a todos os pequenos bens, ia para a rua, abandonava pais e filhos ao destino? Claro, tudo é possível.
Mas a dignidade tem um preço.
Os amigos podiam ajudar? Muito pouco.

Foi com certeza em nome da dignidade que teve a coragem de acabar com a vida.
Nesse mesmo dia veio ter ao Serviço de Urgência do Hospital de Santa Maria uma senhora que se atirou para debaixo do comboio do Metro. Salvaram-na, mas ficou sem um braço. Dias antes atirara-se a professora e o filho de uma janela em Bragança. Na ponte da Arrábida são frequentes os ajuntamentos porque alguém se atirou.
Estamos a assistir a uma epidemia?
Como os nossos governantes e as estruturas internacionais e o poder financeiro mundial já não distinguem entre o Bem e o Mal, temos nós que desobedecer às leis do Mal, protestar, mas não só. Encontrar o caminho para derrubar este Poder. No dia 2 de Março o meu caminho começará na Maternidade Alfredo da Costa na Maré Branca e continuará com todos os outros, através de Lisboa.
Também em nome do meu amigo que NÃO AGUENTOU.

4 comentários:

Anónimo disse...

Eu tenho a impressão que se um dia decidir matar-me, mato primeiro alguém, caro Rodrigo
Abraço

Fê blue bird disse...

Meu amigo:
Estou comovida demais para conseguir comentar algo tão perturbante e real.
Para onde caminhamos...


beijinho

Janita disse...

Caro Rodrigo.

Gostaria muito de comentar algo que tivesse princípio, meio e fim...mas não sai nada. Lamento!

Apenas lhe deixo um abraço.

Janita.

Rosa dos Ventos disse...

Está a acontecer todos os dias! :-((