Neste dia de há 40 anos atrás o nosso País estava a ferro e
fogo. Ao serviço do meu partido de então, percorria com outros companheiros
parte do centro do País defendendo a então jovem democracia. Os assaltos aos
centros de trabalho e outras acções contra revolucionárias estavam no auge e
nós íamos respondendo chamados pelos foguetes do “Tóino Ganiço”
Numa dessas noites cheguei já de madrugada a casa com
intenção de dormir duas ou três horas, pois o trabalho na fábrica não esperava.
A Mãe já estava com contracções e claro que o caminho era a clinica da Marinha
Grande dirigida pelo (incompreensivelmente tão esquecido) Dr. Coelho dos Santos
(curiosamente o médico que assistiu ao meu nascimento, chamado de urgência,
pois a parteira não dava conta do recado). Desta vez o Dr. Coelho não se
atreveu a fazer mais do que sugerir a ida para o Hospital de Leiria, pois devia
vir a caminho um(a) jogador(a) de futebol, porque teimava em sair de pés para a
frente.
Já no hospital um telefonema (via Osvaldo Castro) ao Dr. Lourinho e acabou tudo
por correr bem. Nesse tempo só sabíamos o sexo após o parto e lá saiu uma fêmea.
Não foi nada difícil escolher o nome e lá lhe pusemos o nome de Catarina em
homenagem à heroína alentejana assassinada barbaramente pelo regime fascista.
Recordar 40 anos para quem tem a memoria a funcionar, daria
para escrever muito mais do que um post. Mas recordo a capacidade de lutar por
objectivos, mesmo quando tudo corre mal. Recordo que em face das fracas
condições financeiras, trabalhar de dia e estudar de noite foi a solução e
assim o 11º e 12º ano foram feitos em período pós laboral. Mais tarde também a
licenciatura em psicologia foi feita do mesmo modo. Mesmo quando há dois anos e
picos fomos atirados para uma situação muito complicada o mestrado foi feito
até ao fim (faltou a tese) e durante um ano lectivo com sérias dificuldades o
estágio no tribunal de Oliveira do Bairro, foi concluído.
Fico por aqui. Se por acaso leres isto, aqui ficam as minhas
desculpas.
Amo-te Catarina. Sou um Pai orgulhoso.