Há 41 anos exactamente neste dia e a esta hora (embora se
sentisse um leve cheiro no ar) era quase impossível imaginar que estávamos na véspera
de um dos acontecimentos mais marcantes do século XX. Era um jovem operário
vidreiro com 19 anos. A única perspectiva de vida existente, era a de ir daí a
algum tempo ir para a tropa e mais que certo ser enviado como carne para canhão
para uma das “províncias ultramarinas” combater numa guerra que sabia ser
injusta e sem sentido. A outra (em preparação) era dar o salto para França não
por cobardia mas por convicção. Enquanto por cá andasse ia dando o meu modesto
contributo no combate ao regime fascista que nos oprimia.
Mas de um dia para o outro tudo se alterou. As dúvidas
iniciais foram sendo esclarecidas o povo da grande Lisboa veio para a rua em
apoio dos corajosos militares e rapidamente aqui chegavam ecos de que desta vez
era a sério. O regime fascista foi derrubado.
Hoje 41 anos depois sabemos que nem tudo correu bem. Mais do
que historiar, sou dos que me interrogo dos porquês. Estamos longe da grande
capacidade de mobilização popular vista nesses tempos. A classe política actual
é olhada com desconfiança. Muitas das conquistas de então vão sendo roubadas.
Portugal de Abril já não é o País em construção a que muitos de nós aderimos entusiasticamente.
Que neste Abril saibamos erguer bem alto os nossos sonhos e continuar
a transmitir aos mais jovens que só com a luta e a participação cívica é possível
inverter o caminho e voltar a ter o direito ao sonho.