Nicolau Santos (www.expresso.pt)
13:59 Quarta feira, 21 de novembro de 2012
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Supermercado do centro comercial
das Amoreiras, fim da tarde de terça-feira. Uma jovem mãe, acompanhada do filho
com seis anos, está a pagar algumas compras que fez: leite, manteiga, fiambre,
detergentes e mais alguns produtos.
Quando chega ao fim, a empregada da
caixa revela: são 84 euros. A mãe tem um sobressalto, olha para o dinheiro que
traz na mão e diz: vou ter de deixar algumas coisas. Só tenho 70 euros.
Começa a pôr de lado vários
produtos e vai perguntando à empregada da caixa se já chega. Não, ainda não.
Ainda falta. Mais uma coisa. Outra. Ainda é preciso mais? É. Então este pacote
de bolachas também fica.
Aí o menino agarra na manga do
casaco da mãe e fala: Mamã, as bolachas não, as bolachas não. São as que eu
levo para a escola. A mãe, meio envergonhada até porque a fila por trás dela
começava a engrossar, responde: tem de ser, meu filho. E o menino de lágrima no
canto do olho a insistir: mamã, as bolachas não. As bolachas não.
O momento embaraçoso é quebrado
pela senhora atrás da jovem mãe. Quanto são as bolachas, pergunta à empregada
da caixa. Ponha na minha conta. O menino sorriu. Mas foi um sorriso muito
envergonhado. A mãe agradeceu ainda mais envergonhada. A pobreza de quem nunca
pensou que um dia ia ser pobre enche de vergonha e pudor os que a sofrem.
Tenho a certeza que o ministro
Vítor Gaspar não conhece este menino, o que seria obviamente muito improvável.
Mas desconfio que o ministro Vítor Gaspar não conhece nenhuns meninos que
estejam a passar pela mesma situação. Ou se conhece considera que esse é o
preço a pagar pela famoso ajustamento. É isso que é muito preocupante.
6 comentários:
Caro Rodrigo
Acontecimentos como o que aqui é reproduzido, da responsabilidade de Nicolau Santos, começam a engrossar as filas da miséria social no nosso país.
O Vítor Gaspar não conhece esse menino. Nem outros. Nem as mães. Nem a dificuldade que muita gente tem em gerir o que se transformou, passo a passo, num autêntico inferno.
Não desejo que os Gaspares do planeta passem fome. Exijo, isso sim, que pensem uma, duas, três vezes antes de tomarem decisões.
Um abraço
Nesta estória antevejo o meu próprio futuro! Com a falência da Segurança Social, lá teremos nós que viver da caridade! Tristeza!
O Gaspar (o que nos vai ao bolso e não conhece o menino) nunca foi menino e nunca comeu bolachas.
Andou na escola e transformou-se no 'monstro papa bolachas' dos nossos filhos.
Que RAIVA!
Partilhei isto, ontem, no Fb.
Beijo
Laura
Gaspar não conhece o menino, nem sabe que existem pessoas, Rodrigo. O negócio dele é números!
Abraço
Acho que não podemos culpar somente o Gaspar, Rodrigo!
Talvez o desperdício e o consumismo excerbado de gerações anteriores, tenham contribuido para que muitos meninos de hoje e de amanhã, se vejam privados não só de bolachas, mas também de pão.
Seria bom que nos debruçassemos um pouco mais sobre a abastança desenfreada de um passado recente!
Um beijo.
Pois é, Rodrigo.
Números, estatísticas, impressionam.
Um menino, aquele menino, o concreto, choca, revolta.
Uma grande abraço e votos de bfds caro amigo!!
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