Apanha-se com este Orçamento no lombo, espera-se em Janeiro
pelo encolhido recibo de ordenado (quem ainda o tiver) e dá-nos inevitavelmente
para o queixume. É por isso que manchetes como a de ontem do Jornal de Notícias
são um bálsamo: "Manifestações safam negócio de autocarros." O texto
explica: no sector rodoviário, as empresas de aluguer ocasional de autocarros
são as únicas a sorrir com a crise. Esta leva a manifestações, que vão até
Lisboa protestar e os autocarros alugados andam numa roda-viva... Sorte a
delas, das empresas, mas a lição a tirar da coisa é mais vasta. Um leitor na
caixa de comentários do jornal topou: "Enquanto uns choram, outros vendem
lenços." O Governo aperta, as manifestações desatam-se e, upa!, os donos
da camionagem faturam. É uma forma de sair da crise, certamente melhor do que o
marasmo. E há um lado, digamos, dialético desta história que me encanta. As
manifestações são feitas para mostrar o lado perverso das políticas mas, ao
mesmo tempo, alugando autocarros, tiram do sufoco um sector económico. Vítor
Gaspar, graças ao empenho de Arménio Carlos, pode ficar na História como o
político que mais fez pelas empresas de aluguer dos autocarros. Não se veja
nisto nenhuma cumplicidade, que não há, mas tão só ironias da vida. Quanto ao
mais, aquela manchete tem razão em ser esperançosa. Há improváveis nichos de
mercado que a crise destapou: vender máquinas para fazer furos nos cintos é
outro.
5 comentários:
Amigo Rodrigo.
Aqui está um texto dolorosamente irónico, mas tão verdadeiro!...
"Enquanto uns choram, outros vendem lenços."
Não conhecia a frase, mas vou adoptá-la como sinónimo de que o mal de milhares pode ser o bem de meia-dúzia. Isso não é novidade nenhuma, já que é no tempo das vacas magras que muitos engordam e nem sempre isso acontece por falta de escrúpulos! São as circunstâncias da vida, provocadas por terceiros, que assim o permitem!
Beijinhos.
Tenho vindo a ler, mesmo quando não compro o DN, a coluna de FF. Escreve bem sobre questões ao lado... e sobre o orçamento o homem tem andado (mais ou menos) calado. Falou agora. E o que diz, em síntese, é que os beneficiados da actual situação são os donos das camionagens... com ajuda da intersindical!!!!
O homem não só transpira fel como tem um ódio de morte à persistência da água...
Esqueci de deixar o comprovante
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/cronistas.aspx?seccao=Ferreira%20Fernandes
Mais um texto com o humor mordaz do Ferreira Fernandes.
Excelente!!
Aquele abraço, Rodrigo!!
Um texto à medida de FF.
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