O tempo nunca anda para trás (como pedia aquele cantor de
outros tempos). No entanto sinto que nos tempos que vivemos há alguma
semelhança com o período pós 25 de Abril de 1974. Na altura os meios
tecnológicos eram muito escassos. Uma policopiadora manual ou eléctrica uma resma de
papel e sai um comunicado. Para não falar das rotativas que imprimiam jornais,
alguns tempos depois, o offset com maior capacidade de impressão e qualidade.
Para defender uma ideia, convocar uma manifestação,
contestar uma decisão eram estes os meios, mas não bastava escrevê-los e
imprimi-los era necessários distribui-los. À porta das fábricas, das escolas,
das repartições, dos mercados, enfim onde houvesse gente. Era preciso gente,
gente militante que não só acreditasse em ideais mas que estivesse disposto dar
o corpo ao manifesto (quantas vezes em terrenos pouco propícios, com os riscos
inerentes).
Depois do fascismo era tudo de esquerda e todos os partidos
quase sem excepção inscreviam nos seus programas a construção do Socialismo.
Nos partidos esquerdistas e nos faz de conta havia uma grande disputa pela
liderança ideológica. Quantos partidos (Marxistas-Leninistas-stalinistas -Maoistas
-Trotskistas e mais umas istas) havia? Disputando a herança destes teóricos.
38 Anos depois qualquer um de nós, agarrado a um computador
ou afim, com grande facilidade em poucos minutos difunde pela net uma ideia, certa
ou errada, faz uma partilha faz criar opinião, difunde verdades ou mentiras
(mesmo que involuntariamente) faz uma petição cria um manifesto, marca um
congresso, recolhe apoios e cria adversários e apoiantes.
Sim. O maravilhoso mundo da Net permite uma ampla difusão de
ideias, faz chegar com uma velocidade estonteante uma novidade, um escândalo ou
mais uma vigarice.
Com grande velocidade passamos de uma boa para uma má disposição.
5 comentários:
Aos dias que eu ando com uma enorme vontade como a sua!
«Não me obriguem a vir para a rua gritar
que é já tempo d'embalar a trouxa e zarpar!»
Ai que vontade!!!
Quero crer que nesses outros tempos havia muito mais "garra" do que agora. A "qualidade" dos meios tecnológicos à disposição de nada serve... se não existir ACÇÃO. Parece-me que o nosso povo anda cada vez mais apático. Falam, falam, falam, falam, mas actos CONCRETOS... NADA. :(
Um abraço.
Também me apetece sair à rua e gritar. Mas só vou ganhar uma coisa - rouquidão!
Vou voltar a citar Torga (já o fiz lá no cantinho: "Falta-nos o romantismo cívico da agressão.
SOMOS, SOCIALMENTE, UMA COLETIVIDADE PACÍFICA DE REVOLTADOS"
Abraço
Pois...também me apetece gritar mas eles são surdos e cegos e por aqui todos me mandam calar...
Ainda quero ver se ele tem coragem e tomates para roubar os subsídios ao resto dos pobres deste país.
Nesse dia quero sentir a revolta das pedras e paus porque "às armas ... às armas"..."heróis do Povo" ... já há muito tempo se calaram.
... e já ninguém (infelizmente) vai para as ruas gritar!
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