domingo, 2 de setembro de 2012

Meditação





Meditação (do Duque de Gandia sobre a Morte de Isabel de Portugal)

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
...
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

Nunca mais te darei o tempo puro
Que em dias demorados eu teci
Pois o tempo já não regressa a ti
E assim eu não regresso e não procuro
O deus que sem esperança te pedi.

Sofia de Melo Breyner Andresen

Voz - Rita Loureiro (Um poema por semana RTP2)

Video - Miguel Costa (Imagens S.Pedro de Moel)


9 comentários:

A.Tapadinhas disse...

Muito belo e bem dito. Está em forma, amigo Rodrigo!

Abraço,
António

JP disse...

A Sophia habituou-nos à procura de um deus, de um deus qualquer que nos possa ajudar nossas procuras!

Um abraço Rodrigo

Graça Sampaio disse...

Muito bonito! Não conhecia. Obrigada por mo dar a conhecer.

Bom fim de semana!

mfc disse...

Um poema e uma voz que nos conseguem tocar!

Um abraço.

Rogério G.V. Pereira disse...

Se comentar, estrago
Estrago este encantamento
e o momento

Janita disse...

Rodrigo, este é daqueles momentos que tememos estragar se alguma palavra não ficar bem enquadrada no contexto.
Apesar disso, vou dizer que o poema é excepcional, a declamação primorosa e as imagens lindas!
Parabéns pela escolha e pela partilha, Rodrigo.
Um beijo.
Janita

Laços e Rendas de Nós disse...

Lindo!

Obrigada pelo momento.

Beijo

Laura

Pedro Coimbra disse...

Já tinha comentado isso lá no blogue na semana passada - como poetisa, a Sophia era excelente.
Como pessoa, construiu-se uma imagem pública dela muito diferente do que ela era em privado, Rodrigo.
Enfim, águas passadas.
Aquele abraço e votos de boa semana!!

Unknown disse...

Bom dia Amigo
Gostei destes momentos.
Parece que o sonho nos abraça e embala num mundo poético de grande suavidade.