Meditação (do Duque de Gandia sobre a Morte de Isabel de Portugal)
Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
...
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
Nunca mais te darei o tempo puro
Que em dias demorados eu teci
Pois o tempo já não regressa a ti
E assim eu não regresso e não procuro
O deus que sem esperança te pedi.
Sofia de Melo Breyner Andresen
Voz - Rita Loureiro (Um poema por semana RTP2)
Video - Miguel Costa (Imagens S.Pedro de Moel)
9 comentários:
Muito belo e bem dito. Está em forma, amigo Rodrigo!
Abraço,
António
A Sophia habituou-nos à procura de um deus, de um deus qualquer que nos possa ajudar nossas procuras!
Um abraço Rodrigo
Muito bonito! Não conhecia. Obrigada por mo dar a conhecer.
Bom fim de semana!
Um poema e uma voz que nos conseguem tocar!
Um abraço.
Se comentar, estrago
Estrago este encantamento
e o momento
Rodrigo, este é daqueles momentos que tememos estragar se alguma palavra não ficar bem enquadrada no contexto.
Apesar disso, vou dizer que o poema é excepcional, a declamação primorosa e as imagens lindas!
Parabéns pela escolha e pela partilha, Rodrigo.
Um beijo.
Janita
Lindo!
Obrigada pelo momento.
Beijo
Laura
Já tinha comentado isso lá no blogue na semana passada - como poetisa, a Sophia era excelente.
Como pessoa, construiu-se uma imagem pública dela muito diferente do que ela era em privado, Rodrigo.
Enfim, águas passadas.
Aquele abraço e votos de boa semana!!
Bom dia Amigo
Gostei destes momentos.
Parece que o sonho nos abraça e embala num mundo poético de grande suavidade.
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