Ah, segunda-feira ensolarada,
Não estranharia se
estivesses cinza…
Triste é teu semblante nesta segunda-feira amarga.
Estampado no rosto
Do poeta, do lixeiro,
do professor
Do teu semblante no
espelho, cansado de ser e refletir,
essa fadiga de estar
sendo e indo
aqui, nesse lugar
o relógio
determinando teu ritmo
tua hora de chegar e
de sair de correr e de dormir
esses funcionários,
uniformizados, tão práticos
solicitando prazos
disto e daquilo,
felicitações ao Sr.
Diretor, ao Sr. Gerente, ao Sr. Doutor…
Ah, os buzões abarrotados
os pombos, os
cigarros, os semáforos
os policiais
policiando
os meninos de rua
os engarrafamentos
os metrôs
as duras estações da
pressa
o ódio nos esbarrões,
nas buzinas
gente espremida
contra as janelas
um bando de gente
morta
indo maquinalmente
para o trabalho
distantes de tudo e
todos
e mais distantes
ainda de si.
E não há flor nem lua nem poema que que tire essa gente do
abismo
Essa selva de carros
edifícios ruídos motores válvulas e fios telegráficos
e anúncios anúncios e
mais anúncios mentiras e mais anúncios:
“Venha morar no Setor Noroeste,
um modo verde de se
viver!…”
ah, esse gente triste
indo para o trabalho
esse gente triste
das especulações
imobiliárias
esse gente triste
segue, alheia de si
como o boi para o
abate
Ah, poeta, a tua flor
a rosa do povo
ainda que feia
ainda que suja
ainda brotará do
asfalto?
A. Canuto (Sabiá Duqueza)
7 comentários:
Belíssimo poema! Com alguma descrença. Mas há-de brotar a flor do negro asfalto; há-de brotar a flor dos campos incultos... É só mais um tempo... coisa pouca.
Beijo
Laura
Um poema para ler com calma no final de segunda feira.
O pensamento do poeta desdobra as nossas emoções.
O recomeço de cada semana parece sempre muito difícil.
Um grande bj querido amigo
Assim estamos nós, portugueses, e, tristemente, não só à 2ª feira!
No final do dia, uma leitura repousante, Rodrigo
Abraço
Grande escolha para uma segunda-feira que há-de chegar, Rodrigo.
Aquele abraço!
Grande poema Rodrigo!
abraço
cvb
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