segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Os Resistentes

José Fanha
Os Resistentes

Acumulam derrotas e naufrágios.
Perderam amigos e haveres.
Mas sonham.

Caíram dez vezes
e onze se levantaram.
Porque sonham.

Nos seus olhos há torrões
de terra
cordões umbilicais
e a espuma vermelha de cavalos verdes.
Eles sonham.

Em cada gesto deixam a pairar
um aroma essencial de coiro curtido
ou alfazema.

Renascem dia-a-dia
agarrados à palavra mais fraterna
de todos os alfabetos.

São meninos transparentes
no imenso carrossel da luz.

Entram pela casa do padeiro
como fosse a sua.
Entram pelo mar do pescador
e compartilham peixe
e cicatrizes ancestrais.

Atravessam oceanos para levar o lume
ao alto das montanhas.

Falam na língua do cristal e da prata.
Bebem vinho.
Cantam.
Afagam a memória.
Passam devagar um dedo pela linha
de cada ruga e relembram
as margens duras do fogo
tornando mais amável
a imensa geografia deste mundo.

6 comentários:

  1. Lindissimo, caro Rodrigo!... e oportuno - como sempre! Obrigado.
    Um abraço.

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  2. Caro folha seca,

    O próprio José Fanha talvez também o seja. E resistentes precisam-se neste país.

    Um poema Imenso e Magistral!

    Saudações,
    Clarisse Silva

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  3. Caro amigo:
    Sonhar é resistir!
    Muito belo este poema.
    Curiosamente tenho o tema sonho no meu último post.
    Sou seguidora do blogue do José Fanha, veja aqui:

    http://queridasbibliotecas.blogspot.com/

    beijinhos e boa semana

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  4. Cada vez mais são precisos - os resistentes!
    Bem lembrado!

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  5. Resistir é preciso e o Fanha não o diz da boca para fora. É um exemplo de resistência.
    Obrigado por o ter lembrado aqui, Rodrigo

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  6. O Fanha está tão gordo, Rodrigo!!
    Lembra-se de quando ele se deu a conhecer ao grande público (o concurso "A visita da Cornélia")?
    Depois o fabuloso Pão com Manteiga com o Mário Zambujal, o Carlos Cruz, o Bernardo Brito e Cunha,.....
    Grandes memórias!!
    Aquele abraço

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