sábado, 7 de abril de 2012

Páscoa em tempo de recessão

Católico por tradição, não muito praticante, achava que os actos eram mais importantes do que a presença assídua nas homilias dominicais. Pessoa de bem e com algum rendimento, dada a exploração dum pequeno negócio familiar que já vinha dos tempos do seu pai.
Ao longo da vida lá foi aceitando os pedidos para ser padrinho de uns tantos rapazes e raparigas a que por tradição tinha que dar o folar que se traduzia num folar (propriamente dito) mais um pacote de amêndoas e uma verba em dinheiro vivo.

Até à anterior Páscoa (embora na ultima já tivesse sido difícil) conseguiu dar a cada um dos afilhados solteiros (os outros perdem o direito quando casam) um folar de quatro ovos. Um pacote de amêndoas de ½ Kg e uma nota de 50 euros. Isto a multiplicar por 7 o que foi uma despesa bastante considerável para os tempos que corriam.

Nesta Páscoa há tempo que a consciência lhe pesa, pois cedo percebeu que não estava em condições de gastar o mesmo. Fez contas e mais contas e decidiu que não podia ser. Todo o dinheiro que tinha de parte, foi-se com os investimentos que nos últimos anos teve que fazer para manter o seu negócio a funcionar dada a pressão das autoridades sanitárias e afins e agora mal está a dar para as despesas.

Depois de muito remoer e fazer contas lá decidiu que tinha que reduzir para metade os gastos anteriores e assim cumprir o seu dever de padrinho e não deixar os afilhados sem o tradicional folar da páscoa. Pensava que reduzindo para metade, os custos seriam suportáveis.

Comprou 7 pacotes de amêndoas de 0.250 Kg e logo aí as contas ficaram furadas. Pois o custo era muito superior à metade que pensava gastar. Lá  distribuiu por  7 envelopes não os 50€ mas 25 em cada .

Complicado foi quando foi à padaria encomendar os folares. Pensava que reduzindo de 4 para 2 os ovos o custo também seria de metade. Mas não, ali não funcionava a lei da proporcionalidade. Conversa mais conversa com o padeiro acabaram por encontrar uma solução. Em vez de 7 folares de 4 ovos como costume, fazia pelo mesmo preço do ano anterior, sete folares de três ovos mas em massa de pão. Massa de pão, sim com o mesmo feitio, mas uma carcaça com 3 ovos.
Lá passou a noite de Sábado de Aleluia a pensar como iria explicar esta redução e arranjar uma desculpa para a falta de cor e açúcar daquela imitação de folar de Páscoa. Mas claro que lhes ia prometer que lá para o ano de 2015 as coisas voltavam a ser como dantes. Pensava ele sem grande convicção e também achava que não ia convencer os afilhados.

7 comentários:

  1. A intenção que deveria contar. Penso que os afilhados ficariam felizes.
    Um grande bj e uma linda Páscoa para todos os teus.

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  2. O que conta, encerra grande lição
    Os afilhados são indignos de tanta preocupação

    Cinquenta euros só se dá a quem tem idade para compreender o que está a a acontecer... Tudo aumenta...

    Sabe que o meu post de hoje tem a ver (muito) com isto?, com a omissão dos problemas que ninguém confessa ter?
    Mesmo crucificados, cantamos o lado brilhante da vida, como se nada estivesse a acontecer...

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  3. Gisa
    Grato pela visita. Não sei bem como é por aí a Páscoa, mas por aqui também já não sei.
    Beijinho
    Rodrigo

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  4. Caro Rogério
    Embora ficcionada é uma estória que tem muita verdade em fundo. Penso que já não tanto. Mas noutros tempos havia uma certa "vaidade" no valor a dar aos afilhados.
    A estória do pão é que é verdadeira. O meu padrinho dava-me sempre uam carcaça com 2 ovos e uma daquelas moedas de 10 escudos. Ficava lixado, pois a madrinha emigrou e o padrinho era um semítico (que me perdoe lá onde está) ainda por cima era gozado pelos meus irmãos que tiveram mais sorte do que eu.
    Abraço e já agora Boa Páscoa!

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  5. Meu querido amigo

    Hoje passando para desejar uma Páscoa Feliz e cheia de amor e paz, junto de todos que lhe são queridos.

    Beijinhos com carinho
    Sonhadora

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  6. Bom dia Rodrigo
    Este ano tinha dito aqui em casa que só daríamos um chocolate.
    Mai nada...
    Dinheiro nem pó...
    Ela a Maria entendeu que não...que isso não se faz...que são crianças...

    Muito bem.
    Organiza as coisas como quiseres.

    Já não temos afilhados e são os filhos dos meus sobrinhos que nos enchem a casa à procura de uma nota... amêndoas e chocolates nem pensar...dinheirinho...
    Para quê ...? nunca se sabe...

    Enfim são crianças...elas ou nós???

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